A realidade na ficção


18.10.2019

Há um episódio em Black Mirror - série de ficção científica exibida pela Netflix que critica e examina os impactos da tecnologia na sociedade -, em que as pessoas, em um mundo distópico, são obrigadas a pedalar bicicletas ergométricas que geram energia elétrica. Em troca, elas recebem uma espécie de crédito em dinheiro que é usado para consumir programas de entretenimento. Os únicos isentos de tal labuta são os artistas responsáveis pela criação desses conteúdos.

Como quase todo episódio da série, trata-se, evidentemente, de um exagero ou uma alegoria para simplificar uma ideia. O ponto central é a transformação das atividades laborais humanas com o avanço da tecnologia. 

No mês passado, discuti aqui neste espaço como a revolução tecnológica pode transformar o mercado de trabalho e terminei o artigo com algumas indagações que pretendo abordas novamente: O que será de nossos empregos? Onde nossos filhos e netos trabalharão no futuro? Se não houver emprego, como haverá consumo e para quem as máquinas trabalharão?

Um estudo da Consultoria PwC indica que até um terço dos postos de trabalho em países como Japão, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos podem ser ocupados por robôs até 2030. Profissões como piloto de avião, anestesista, contador, advogado, jornalista e analista financeiro devem acabar ou, na melhor das hipóteses, ficarem bem restritas. De acordo com o mesmo estudo, o percentual de vagas sob risco de automação varia entre áreas como educação (9%) e saúde (12%), até outras como manufatura (46%) e transporte (56%). 

Por outro lado, a automação traz enormes ganhos de produtividade e consequente diminuição de preços nos produtos. Aí você pode perguntar: de que adianta um produto mais barato se grande parte das pessoas não poderá consumir por estar desempregada? Essa é uma pergunta que tem interessado governos e megaempresários no mundo inteiro. Uma solução apontada é a criação de uma renda mínima para os cidadãos. A ideia é que parte dos lucros obtidos com os ganhos de produtividade seja transferida para a parcela da população excluída do mercado de trabalho. Assim, os governos evitam o colapso e as empresas garantem a manutenção de seus consumidores, bem como na ficção de Black Mirror.

Jader Viana

Jornalista e economista

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