Saúde: Alimento, Movimento e Pensamento


10.02.2022

A saúde é o fator mais importante para a felicidade. Sua perda leva ao sofrimento, o que impede a felicidade. Criar e preservar a saúde é evitar a doença para viver mais e melhor. Para tratar as doenças precisamos dos médicos, mas na criação da saúde somos nós mesmos os protagonistas. Afinal somos os maiores especialistas em nossos corpos e em nossas circunstâncias de vida. E também os maiores interessados em nossa saúde. Devemos criá-la, tendo o médico como parceiro. Prevenção é ação para evitar uma doença antes que ela ocorra. Prevenir é melhor do que remediar e criar saúde é mais inteligente do que tratar doença.

Nosso organismo é determinado pelos genes e pelo ambiente, da mesma forma que uma árvore vai depender da semente e do ambiente (terreno e condições climáticas). A saúde e as doenças são determinadas pela interação da herança genética com o ambiente. A genética determina muito da probabilidade de desenvolvermos determinada doença. Mas ter o gene para uma doença não é o mesmo que ter a doença. Fatores ambientais (como o estilo de vida) influenciam a possibilidade da doença se manifestar, fenômeno denominado epigenética (epi: sobre; o que está por cima da genética) para expressar a capacidade do ambiente de modificar os genes (para o bem ou para o mal). É como se os genes fossem as cordas de um violino e o ambiente, o violinista: o som vai depender das cordas do violino (genes) e da qualidade do violinista (ambiente). Não podemos atuar diretamente sobre os genes, mas sabemos que a interação deles com o meio ambiente pode atenuar ou potencializar em mais de 70% o gene de determinada doença. Ou seja, o determinismo dos genes não é absoluto, nos restando as escolhas dos fatores que determinam a epigenética. Portanto, o problema maior não são os genes, mas as instruções que damos a eles por meio de nosso estilo de vida.

Ambiente pode ser resumido na forma de se movimentar, alimentar e pensar. Isso é expresso em um antigo provérbio chinês: “se queres viver com saúde tenhas a cabeça fria, o estômago leve e os pés quentes”. As doenças que mais incapacitam e matam (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e câncer) são desencadeadas ou intensificadas pelo estilo de vida inadequado (estresse continuado, alimentação inadequada e sedentarismo) e podem ser prevenidas, ou pelo menos adiadas, apenas com a mudança de estilo de vida. A saúde não está apenas nos consultórios, nos hospitais ou nas farmácias, mas também e principalmente nas condutas relativas ao alimento, movimento e pensamento.

A humanidade evoluiu nas florestas e savanas, onde viveu 99% de sua existência. Só muito recentemente passamos a viver em povoados e cidades. Mas nossa biologia continua moldada para caminhadas diárias nas florestas à procura de dieta variada de frutas, tubérculos, carne de caça, castanhas e outros alimentos ricos em fibras mas com baixo teor calórico. Em decorrência das revoluções agrícola e industrial, passamos a ser sedentários e a ingerir alimentos inadequados à nossa espécie (ricos em calorias e pobres em vitaminas, fibras, proteínas e sais minerais). Somos primatas bípedes que anseiam por açúcar, sal, gordura e amido, mas ainda estamos adaptados a comer uma dieta diversificada de frutas fibrosas, legumes, tubérculos e carne magra. Gostamos de descansar e relaxar e passamos nossos dias dentro de casa sentados em cadeiras, olhando para livros e telas, mas nossos corpos ainda estão adaptados para andar grandes distancias por dia. Este atual estilo de vida é responsável por várias epidemias (doenças de desajuste) que acometem o homem moderno: obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dores na coluna, doenças cardiovasculares e muitas outras. A solução destas epidemias é simples: mudar o ambiente e o comportamento para promover saúde por meio de prevenção. Ou seja, usar os corpos que herdamos da maneira como evoluíram para ser usados.

Nós somos o que ingerimos, pois é o alimento que contrói os tecidos de nosso corpo e propicia a energia para todos os processos vitais. A alimentação é, portanto, o fator controlável mais importante para a saúde. Siga o conselho de Michael Pollan: “Coma comida de verdade, de preferência vegetais, mas não muito.” Comida de verdade significa alimento natural, não processado.

O movimento em qualquer local é benéfico. Mas o ideal é praticar a atividade para a qual a evolução nos moldou: caminhada na natureza. Ela é a atividade física mais característica e natural do homem e a mais recomendada por não exigir muita preparação física, além de melhorar significantemente a qualidade de vida. O grau de atividade física é inversamente proporcional ao risco de doenças e morte. Vida é movimento.

O que caracteriza nossa humanidade é a capacidade de pensamento para atribuir significados à realidade, ou seja, conhecimento. Somos nossa própria luz, um projeto nunca acabado, tendo sempre que nos construir, de sermos o escultor de nós mesmos. Pensar melhor para ter paz de espírito e esculpir, por meio dos bons hábitos, nosso próprio corpo, o que por sua vez vai determinar nossos pensamentos, pois todo pensamento é a confissão de um corpo. A mente sã é produto de um corpo são. Ou seja, cuidar do corpo reflete na mente, possibilitando pensar melhor, viver melhor, o que se reverte em benefícios para o corpo.

São as relações com as pessoas e o meio no qual vivemos que dão sentido à existência e tornam a vida um bem precioso. A sabedoria consiste em procurar de forma moderada os prazeres naturais e necessários e evitar o sofrimento. Cada circunstância é um momento ímpar da existência e requer uma atitude singular. Evite os dois grandes males: o peso do passado e as miragens do futuro. Lamente menos o passado, espere menos do futuro e ame mais no presente. Não há outra realidade além da que é vivida aqui e agora. Fique atento ao momento e limite suas preocupações ao dia de hoje. Hoje é a vida.

O passado do corpo humano foi moldado pela evolução através da seleção natural, mas o futuro de seu corpo depende de como você o usa. Usá-lo indevidamente é um erro que contém em si próprio o castigo. Quem hoje não tem tempo para cuidar da saúde, no futuro será obrigado a ter tempo para as doenças.

Dr. Sebastião Gusmão

Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG

Tel: (38) 3531-4016

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