Hanseníase


14.01.2022

Janeiro (janeiro roxo) é o mês mundial da luta contra a hanseníase, que continua sendo um grave problema de saúde em nosso país. A doença continua a crescer no Brasil, com cerca de 30 mil novos casos por ano. Índia e Brasil são os países mais acometidos, sendo ela mais comum em contextos de pobreza.

A hanseníase era antigamente conhecida como lepra. O nome é dado em homenagem ao médico norueguês Hansen, que descobriu a causa da doença em 1873. Embora com menor prevalência e passível de tratamento, continua a atingir a população brasileira mais pobre, sendo ainda um problema social. No passado era um doença carregada de estigma e preconceitos, sem tratamento. Durante grande parte da História, os doentes foram vítimas de estigma social, o que ainda continua a ser uma barreira para a procura de tratamento. Seu tratamento constitui um dos grandes feitos da medicina moderna.

A hanseníase é uma doença infecciosa causada por uma bactéria (Mycobacterium leprae), que se multiplica lentamente e pode levar de cinco a dez anos para dar os primeiros sinais. Ela afeta principalmente a pele e os nervos periféricos. É transmitida de uma pessoa doente, que não esteja em tratamento, para uma pessoa saudável suscetível. Contrariamente à crença popular, não é altamente contagiosa. Embora tenha cura, pode causar incapacidades físicas se o diagnóstico for tardio ou se o tratamento não for feito adequadamente.

A hanseníase se manifesta no início com manchas brancas, vermelhas ou marrons em qualquer parte do corpo, com alteração de sensibilidade à dor, ao tato, ao quente e ao frio. Podem aparecer também áreas dormentes, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas. Na fase mais avançada aparecem caroços, nódulos, entupimento nasal, perda de pelos em algumas áreas, redução da transpiração e dor e espessamento dos nervos periféricos. Na presença desses sintomas deve-se procurar uma unidade de saúde para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento.

O diagnóstico é realizado por meio dos sintomas e confirmado com a análise por biópsia. O maior problema para a eliminação da doença está na dificuldade de identificá-la. O diagnóstico tardio determina sequelas (especialmente a incapacidade física com deformidades em mãos e pés) e aumento do risco de transmissão da doença não tratada. Quando mais cedo o diagnóstico, maiores as possibilidades de cura e menor o risco de sequelas.

Deve-se procurar um serviço de saúde assim que se perceber o aparecimento de manchas, de qualquer cor, em qualquer parte do corpo, principalmente se elas apresentarem diminuição de sensibilidade ao calor e ao toque. Após iniciado o tratamento, o paciente para de transmitir a doença quase imediatamente

A progressão da doença é lenta, e seu período de incubação é prolongado, chegando a durar anos. Como tem cura e for tratada precocemente de forma adequada, pode evitar incapacidades e sequelas. O tratamento consiste no uso de três tipos de antibióticos (rifampicina, dapsona e clofazimina).

O tratamento está disponível nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Após iniciar o tratamento, que dura entre 6 a 12 meses, o paciente não transmite mais a doença para as pessoas de seu convívio.

A hanseníase foi no passado uma doença terrível, sem tratamento, determinando a exclusão social do paciente com todas as misérias de uma vida segregada nos antigos leprosários. No Brasil, até meados do século passado, os doentes eram forçados ao isolamento nestes leprosários, que visavam muito mais o afastamento dos portadores do que o tratamento efetivo. Hoje a hanseníase é uma doença infecciosa facilmente tratável. Não se justifica mais sofrer por ela. Basta estar atento aos sintomas e procurar tratamento médico.

Dr. Sebastião Gusmão

Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG

Tel: (38) 3531-4016

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