Um apagão estatístico


15.06.2021

“Data is the new oil” (Dados são o novo petróleo). A frase criada por um especialista de dados inglês e que tem norteado ações de empresas e governos ao redor do planeta, parece não ter sido captada pelo Congresso e governo brasileiros. Enquanto o mundo todo investe cada vez mais na obtenção e tratamento de dados, seja para planos de marketing ou desenvolvimento de políticas públicas, o governo Bolsonaro desacreditou e tentou interferir nos números do Inpe, instituto que divulga o desmatamento na Amazônia, e tentou até esconder os números da Covid no início da pandemia.

A mais recente demonstração do descaso com dados - e também a mais nociva - foi o corte no orçamento para a realização do Censo Demográfico neste ano. Feito no Brasil desde 1872, com exceção de 1910 e 1930, o levantamento censitário é realizado no Brasil a cada 10 anos e funciona como uma espécie de radiografia da população brasileira. Apura-se informações pormenorizadas como o tamanho da população de cada localidade, escolaridade, renda, raça, ocupação, sexo, dentre tantos outros dados capazes de dar aos governantes um norte na construção de políticas públicas eficazes.

Previsto para ser realizado no ano passado, o Censo precisou ser adiado para este ano em função da pandemia do coronavírus. Agora, porém, na votação do Orçamento de 2021, os deputados e senadores, com a conivência do ministro da Economia, Paulo Guedes, cortaram R$ 2 bilhões que iriam para o IBGE, responsável pelo levantamento. Com isso, adiou-se mais uma vez a pesquisa. Sabe-se Deus para quando.

Já que os dados do último levantamento realizado em 2010 estão desatualizados, as chances do governo errar em suas ações aumenta muito. Um exemplo recente foi a falta de calibragem no valor do auxílio emergencial pago em 2020. Sem conhecer a população brasileira, o governo ofereceu um valor alto para milhares de pessoas que não precisavam e baixo demais para milhares de pessoas que realmente necessitam.

Os dados são o novo petróleo, não só pelo seu valor de mercado mas principalmente por também precisarem ser refinados e tratados para serem mais eficientes. Mas no Brasil, caminhamos no sentido contrário. Desprezando os dados e nos tornando menos eficientes.

Jader Viana

Jornalista e economista

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