Serro é tradição e cultura na Festa do Rosário
11.07.2019
Cidadãos e cidadãs representantes de diversos segmentos da comunidade, que compõem o Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo do Serro, se reúnem para finalizar o documento oficial do Município
A Festa do Rosário se confunde com a história do povo brasileiro. Em Minas, a cidade de Serro se destaca na perpetuação dessa celebração tipicamente brasileira, uma das mais autênticas manifestações de fé, tradição e cultura popular em nosso país.
Pobres e ricos, poderosos e humildes se unem na fé e nas tradições, em uma belíssima narrativa alegórica da fusão dos povos que formaram a nação brasileira: o índio, o português e o africano.
Tradicionalmente realizada no primeiro domingo de julho, neste ano a Festa do Rosário aconteceu entre os dias 28 de junho a oito de julho. Mas a preparação do espírito de fé da Festa tem início na semana anterior, na Novena a Nossa Senhora do Rosário.
Origens das comemorações
do Rosário
O uso do Rosário remonta ao ano de 1096. Foi proposto por "Pedro, o Eremita", monge católico francês, um dos principais pregadores das Cruzadas, para difundir o hábito da oração entre os fiéis. Daí a devoção a Nossa Senhora do Rosário.
Porém, a alegoria da festa se refere a fatos históricos posteriormente trazidos pelos colonizadores portugueses. Uma parte importante da Festa é a narrativa da batalha naval de Lepanto, na Grécia, quando em 07 de outubro de 1571, os cristãos venceram os mulçumanos, sob a proteção da Virgem do Rosário, apesar da grande desvantagem em número de combatentes.
A lenda
A lenda narrada na Festa do Rosário diz do aparecimento milagroso de Nossa Senhora do Rosário sobre as águas do mar.
Os portugueses, representados pelos Marujos, pediram à Rainha dos Mares que viesse à terra firme, mas não foram atendidos. Os índios, representados pelos caboclos, também rogaram à Virgem do Rosário que ela se chegasse a eles, sem sucesso.
Somente quando os catopés, que são os negros trazidos escravos da África, tocaram seus instrumentos, dançaram e rezaram, a Virgem aportou em terra. Por essa razão, a soberana senhora se tornou a protetora dos negros, passando a ser chamada de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Uma clara afirmação de identidade da cultura banto no Brasil. Uma espécie de consolo pelas duras condições de vida desse povo, apartado de sua cultura tradicional, trazido à força para o Brasil como mercadoria e mão-de-obra escrava.
Além da Novena, que antecipa em oito dias as celebrações, a festa em si tem início na madrugada de sábado. Um grupo de músicos composto por três flautas de bambu e duas caixas de couro, chamado “Caixa de Assovio”, percorre as casas ao encontro dos festeiros e mordomos. Às cinco horas da manhã o cortejo se dirige à Igreja do Rosário e bate várias vezes à porta, solicitando permissão para entrar no templo e dar início à Festa.
Ao final das orações na igreja, os fiéis se dirigem à casa dos festeiros, onde são recebidos com farta quitanda de caldos, carnes e bebidas, inclusive a “Cachaça do Rosário”.
Ainda no sábado os membros dos folguedos e os devotos tomam a bandeira de Nossa Senhora na casa do mordomo. Aí acontece o desfile da marujada, dos caboclos e dos catopés, cada qual com suas roupas e ritmos característicos. Compondo a coreografia, o Boi do Rosário faz a alegria da meninada. À noite, junto à queima de fogos, é realizada a cerimônia de hasteamento do Mastro, um espetáculo inesquecível.
Na manhã de domingo celebra-se a missa de coroação do Rei e da Rainha do Rosário e acontecem as encenações da Barca e da Embaixada. Uma linda expressão do imaginário de poder da cultura africana, subjugada pelos brancos.
Os desfiles começam cedo e se estendem por todo o dia, até a noite. Os primeiros são os marujos vestidos de uniformes branco e azul, com vozes e instrumentos em ritmos que emocionam os assistentes.
Em seguida desfilam os caboclos, com ornamentos de penas ricamente coloridas e flechas, que se transformam em instrumentos de percussão, acompanhados por sanfona, caixas e reco-reco, imprimindo um ritmo acelerado às danças com movimentos rápidos e violentos.
Os catopés, considerados na festa como superiores hierárquicos, desfilam por último. O ritmo dos catopés é mais lento, ao som de flautas, que lembram o som do lamento dos escravos nas senzalas. Ricamente vestidos, eles conduzem solenemente o rei e a rainha, acompanhados dos juízes e de celebridades do Reinado. No final da tarde a população e visitantes acompanham a procissão e a coroação de Nossa Senhora do Rosário.
Durante todo o domingo e na segunda-feira o Reinado e os grupos de Congado circulam pelas ruas, visitam as casas dos Festeiros, comem, bebem, fazem evoluções e movimentam toda a cidade cantando e encantando moradores e visitantes. Na segunda-feira dá-se posse ao novo Reinado e são repetidos os desfiles em homenagem a Nossa Senhora.
Ao fim do dia acontece a emocionada despedida dos figurantes e fiéis. Renovam-se os agradecimentos, os pedidos e as promessas, com a intenção de retornar no ano seguinte. Em todos os dias da Festa, barraquinhas montadas no entorno da Igreja do Rosário vendendo de tudo, completam a festa e são uma atração turística à parte.
A Festa do Rosário, promovida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Associação dos Congados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e condução espiritual dos sacerdotes Católicos é um espetáculo imperdível de fé e tradição.
A celebração mobiliza, há anos, praticamente, toda a população serrana. Seu sucesso passa também pelo trabalho dedicado e responsável da Prefeitura do Serro e suas secretarias, coordenado pela Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio.