Milho Verde: a simplicidade do passado nas montanhas mineiras


Igreja Nossa Senhora do Rosário

19.04.2018

Chafariz - José Gustavo Abreu Murta

O pequeno distrito de Serro fica a cerca de 300 km de Belo Horizonte, é o testemunho vivo do antigo modo de vida do Alto Jequitinhonha. O volume de visitantes é o prenúncio de um polo consolidado de turístico regional.

Assentado no alto da Cordilheira do Espinhaço, o singelo distrito de Milho Verde vem atraindo cada vez maior número de turistas, que imprimem ali a fusão do passado colonial mineiro à formação de um novo modo de vida urbana. A partir da década de 1980, muitos se mudaram para lá, fugindo do agito das grandes cidades.

Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres

História e lenda

A origem do nome, segundo se conta, é em razão dos primeiros bandeirantes que ali chegaram famintos, foram recebidos por uma comunidade de índios locais, que lhe ofereceram milho, abundante na região.

Outra versão é que por volta de 1711, o português Rodriques Milho Verde, natural do Minho, chegou à região em busca de ouro e diamante, iniciando assim o povoado.

De toda sorte, o antigo Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres de Milho Verde do Serro Frio surgiu no início do século XVIII com garimpeiros, quando se descobriu ouro e diamante na região.

O arraial era um dos pontos de apoio de tropeiros no caminho que liga Serro a Diamantina pela Estrada Real, por onde escoava a exploração mineral em direção ao Rio de Janeiro. Na época, a Coroa Portuguesa instalou ali um quartel e um posto fiscal para controle do contrabando de ouro e diamante.

Mais tarde, com a proibição da exploração de diamantes, Milho Verde cai em abandono. Há registros do mineralogista José Vieira Couto, do inglês John Mawe e do francês Saint-Hilaire, do início do séc. XIX, relatando a decadência de Milho Verde. José Vieira descreve a vila como um “lugarejo pequeno, mal arranjado e com muitas casas palhoças”.

Já no início do século XX, é retomada a exploração de ouro e diamante, desta vez, em grande escala, com a utilização de dragas e bombas e desvio dos cursos d'água, o que resultou num imenso desastre para os rios e o meio ambiente.

Após a segunda proibição da exploração do diamante, a população local passa a viver da pecuária e da agricultura de subsistência, além da colheita de flores decorativas sempre-vivas.

O passado de abandono manteve seu povo com a vida simples. A estagnação e a preservação do modo de vida local foram os atrativos para turistas em busca de descanso e de contato com a natureza.

Na década de 1970/80, houve um maior afluxo de pessoas à região, vindas das grandes cidades, influenciadas pelo movimento hippie e impulsionadas pelas músicas de Milton Nascimento, Fernando Brant e o Clube da Esquina, sucesso da época.

Esses movimentos de migração dos grandes centros para pequenas localidades alternativas ocorreram, também, na mesma época, no litoral brasileiro, como Canoa Quebrada, Trancoso, Arraial da Ajuda e no Brasil Central, como Pirenópolis e Goiáz Velho.

Igreja Nossa Senhora do Rosário - Cristiano Carneiro

Os novos visitantes, ao mesmo tempo em que valorizavam a cultura local, a beleza dos seus vales, montanhas, cachoeiras, caminhadas e viam nelas seu maior atrativo, imprimiam novos ares para a população local, influenciando-a com seus hábitos urbanos.

Nesta toada e influenciado pela nova geração, Milho Verde ressurge como um lugar aprazível e foi germinando a semente de um novo destino turístico.

Assim, o distrito se estabelece no cenário do turismo, explorando a vida simples e a beleza da paisagem; ao mesmo tempo em que o cenário de suas ruas e vielas aos poucos foi se transformando, com a construção de restaurantes e pousadas e um novo comércio e serviços para visitantes, hoje, a base de sua economia.

Atualmente, Milho Verde oferece boa infraestrutura de serviços para visitantes. Restaurantes, hotéis, pousadas e campings garantem conforto e aconchego aos turistas de todos os níveis e exigências.

A tradição religiosa também é bem preservada nas centenárias festas populares, que atraem turistas e garantem a memória deste distrito de mais de 300 anos.


Festa do Rosário Thelmo Lins e Wagner Cosse


Igreja Nossa Senhora do Rosário
 

À noite, na alta temporada, os bares promovem festas, baladas e eventos para a moçada, fato, para alguns, comprometedor da paz e da tranquilidade locais, mas que garantem ao distrito o movimento de turistas e geração de emprego e renda.

Há muito atrativo para se ver e viver em Milho Verde.

Além das igrejas antigas, testemunhos da fé, da tradição religiosa e símbolos da arquitetura colonial mineira, Milho Verde tem atrativos para todos os gostos, em especial, as cachoeiras.

Cachoeira do Carijó


Foto: Cristiano Carneiro

Situada a 3 km do centro de Milho Verde, a Cachoeira do Carijó tem 8m de queda e um poço delicioso com água limpa e cristalina. Ideal para um banho de relaxamento.

Cachoeira do Moinho


Foto: Cristiano Carneiro

Uma das maiores e mais bonitas da região fica bem próxima ao centro. O nome se deve à existência de dois moinhos d'água antigos, utilizados na moagem do milho para se fazer o fubá. Além de poços de água limpa e extremamente agradáveis para um banho, existem duas quedas maiores, que irão se juntar ao Rio Jequitinhonha, logo à frente.

Cachoeira do Piolho


Foto: Cristiano Carneiro

Formada pelo córrego de mesmo nome, a cachoeira do Piolho é assim chamada por causa de pequenos diamantes encontrados antigamente no leito do córrego. A cachoeira tem uma queda com mais de 30 metros de altura e é utilizada também para a prática do rapel.

Cachoeira do Lajeado


Foto: Cristiano Carneiro
 

Um platô na chapada da cidade, bem no centro do distrito e ideal para crianças. A areia branca e os diversos poços rasos de águas cristalinas se tornam mais abundantes durante as cheias formando três quedas e uma paisagem magnífica.

Cachoeira do Baú

Localizada a cerca de 8 km de Milho Verde, na localidade do Baú, antigo quilombo, onde nasceu a lendária Xica da Silva, a cachoeira tem um poço delicioso, entre encostas acentuadas e uma paisagem que mexe com nossa alma.

Cachoeira do Ausente

Fica num lugarejo, também antigo quilombo, com população descendente de antigos escravos e cultura tradicional preservada. A cachoeira tem pequenas piscinas naturais de águas cristalinas e o passeio compensa.

Cachoeira Campo Alegre

Um conjunto de pequenas quedas, em meio às pedras, a 8 km de centro, um ponto de parada na antiga trilha utilizada por tropeiros.

No entorno de Milho Verde estão também as cachoeiras da Canela e dos Macacos, menos visitadas, mas, de igual beleza.

Preservação X Desenvolvimento

Atualmente, a população local, consciente dos dois lados da moeda dos impactos do turismo e da migração, luta para tentar harmonizar a preservação do meio ambiente e os antigos hábitos locais, com o desenvolvimento de sua economia a partir do turismo.

De qualquer forma, o hospitaleiro distrito de Milho Verde continua sendo o retrato vivo da autêntica cultura mineira do Alto Jequitinhonha e compõe os distritos de interesse turístico na política municipal de turismo da Prefeitura da cidade de Serro.  Não se pode perder a oportunidade de desfrutá-lo.

Boa viagem!

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