Por um patrimônio vivo, dinâmico e histórico


15.06.2024

Assistimos recentemente à retomada dos investimentos no campo do patrimônio cultural e histórico no Brasil. Grandes programas federais como o Novo PAC do Patrimônio Cultural e das Cidades Históricas, além de anúncios de investimentos em diversas áreas para todas as regiões do Brasil vêm demonstrando a relevância e o cuidado com a preservação de nossa memória, fazendo da manutenção e proteção de nosso legado histórico uma pauta urgente. 

Se avaliarmos que Minas Gerais é a maior potência em patrimônio cultural - detemos cerca de 56% de todo o Patrimônio Histórico tombado no Brasil – entendemos que o Estado deve ocupar, de forma natural, posição de destaque nessas políticas e investimentos. Minas tem quatro patrimônios culturais da Humanidade tombados pela UNESCO: os centros históricos de Ouro Preto e Diamantina, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, e o Conjunto Arquitetônico da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Isso tudo corrobora a principal vocação do destino turístico Minas Gerais, centrado na cultura, história e gastronomia.

É dentro deste cenário que assistimos uma nova tendência em Minas e no mundo, dentro do conceito de gestão e proteção do patrimônio arquitetônico e cultural. Há algum tempo, o patrimônio tombado era protegido até mesmo do público, como forma de sua proteção e preservação. Esse princípio mais afastava o público do bem tombado que aproximava, colocando assim o patrimônio preservado pela própria comunidade ao longo dos anos como um bem não mais pertencente a ela. Esse distanciamento colocava também o patrimônio apenas como um custo para as administrações locais, o tornando como algo estático e sem vida. 

Como o turismo é uma atividade dinâmica, estamos vivenciando uma mudança mundial desse paradigma, vendo o patrimônio tombado cada vez mais perto de sua comunidade e integrando o turismo local, seja como cenário, como local de eventos e encontros, ou até mesmo como um atrativo que além de ser visitado, passa a ser o agente da história de seu povo, como personagem, propondo o turismo de vivências.

Entendemos que não há proteção maior de um bem histórico que sua apropriação pela comunidade, dentro do que conhecemos como pertencimento. O patrimônio aberto a sua comunidade, fazendo parte de suas ações, fomenta toda uma extensa cadeia produtiva e inclusiva ao seu redor, incentivada pelo turismo, em suas várias formas e possibilidades. Dentro desse cenário o patrimônio passa a ser protagonista, um personagem a ser protegido, tendo na comunidade o cuidado permanente, vigilante, cobrando políticas para sua proteção, revitalização e requalificação, como a acessibilidade, adoção de novas tecnologias, como a internet por exemplo.  

É dentro desse novo processo de revitalização conceitual da gestão do patrimônio cultural que identificamos uma integração natural entre o patrimônio e as comunidades que vivem em seu entorno, que se sentem representadas e vivas neles. Essa formação de identidade cultural e o sentimento de pertencimento fazem desses patrimônios, outrora intocados, o palco de festas populares, folclóricas, festivais literários, gastronômicos, sendo um ativo permanente para a comunidade que o dentem e o mantém, ao longo de séculos e dos anos.

É nesse sentido que a APPA - Cultura & Patrimônio realiza ações que vão além das obras físicas nos bens, e integram Programas de Receptivos e Educativos, democratizando o acesso e fomentando o senso de pertencimento patrimonial.  Já realizamos inúmeras intervenções em Minas Gerais e hoje estamos em franca expansão para a região Norte do país, com ações no Real Forte Príncipe da Beira (Rondônia) e na Fortaleza de São José de Macapá (Amapá) - ambas estruturas candidatas a Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. 

Xavier Vieira é presidente da APPA - Cultura & Patrimônio

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