Guilherme Simões, prefeito do Serro, faz um balanço sobre as últimas chuvas e o Festivale 2020


18.02.2020

Na entrevista concedida a Paulo Queiroga, que foi ao ar no programa Sentinela do Serro, Guilherme Simões faz um balanço sobre as últimas chuvas e sobre o Festivale, que este ano aconteceu na cidade do Serro

Prefeito Guilherme, as chuvas do mês de janeiro acometeram praticamente todo o Estado de Minas Gerais. Muitas cidades ficaram alagadas. Houve mortes, famílias desabrigadas e perdas de patrimônio. Em Serro, embora as chuvas não tenham tido grandes consequências, comparadas a outros municípios, ocorreram situações de desconforto e prejuízos à população serrana. Que balanço você faz dessas ocorrências?

Prezado Paulo Queiroga, com referência às últimas chuvas, o Estado de Minas Gerais, como um todo, sofreu muito e não foi diferente em nossa região. Porém, o balanço que faço é que as chuvas, no geral e ao final, nos trouxeram mais benefícios do que prejuízos. O Serro, hoje, tem uma comunidade já consciente dos riscos que a chuva pode nos trazer. Percebemos que as pessoas estão, de forma consciente, evitando construir nas encostas. Em Minas Gerais existem duas cidades com características diferenciadas, por não terem sido construídas à beira de rio, que são Ouro Preto e Serro, ambas no circuito histórico de Minas. Apesar das consequências das chuvas, nós não temos dificuldades maiores nesse aspecto. Isso devido ao histórico de uma urbanização espontânea, próprio de algumas cidades históricas mineiras.

Aqui no Serro tivemos algumas dificuldades. Algumas famílias, não foram muitas, tiveram de deixar suas casas, estão em casas de parentes, outras em abrigos. Mas, são casos pontuais. Mesmo com as dificuldades, as quais nós já estamos superando, não houve interrupção do tráfego nas nossas estradas. Na área urbana da sede, bem como nos distritos, houve casos de ruas danificadas, mas, em um nível que eu diria suportável. Isso porque sua recuperação é relativamente fácil de realizar. A gente pede à população que entenda isso também. A chuva cai em todo o município. Ela não escolhe onde existe calçamento, onde não há pavimentação. Felizmente, nós temos uma Defesa Civil Municipal muito comprometida, além das outras instituições, como a própria Polícia Militar. Até mesmo as igrejas orientam a população nesse sentido. Temos, pois, toda uma corrente de pessoas e instituições trabalhando para isso.

Então, posso dizer que temos dificuldades, mas são superáveis e a gente está trabalhando para que as coisas se normalizem e que tenha o tráfego normal, que garanta o escoamento da produção, que assegure a regularidade do transporte escolar, do atendimento à saúde e que se recupere a rotina normal, mesmo que tenha uma ou outra rua danificada, na sede ou nos distritos.

Temos assistido municípios que sofreram as consequências da chuva e decretarem estado de emergência. A comunidade serrana precisa saber por que o município de Serro não decretou Estado de Emergência no mês de janeiro.

O decreto de emergência é um instrumento previsto por lei, para que o município faça registro das tragédias ocorridas e dos prejuízos, sejam eles de natureza financeira, humana e patrimonial. Para nós, foi menos danoso a chuva ter vindo dessa forma, quero dizer, sem maiores consequências, como ocorreu em outros lugares. Em Serro, a comunidade está mais preparada. Então, por isso os efeitos foram menores. E esta questão é de ordem legal e não uma prerrogativa do prefeito. Para se decretar Estado de Emergência tem que provar, tem que relacionar vítimas e prejuízos. A Defesa Civil é coisa séria e os critérios são técnicos. Tive colega prefeito que se antecipou usando o instrumento do Decreto de Emergência. Acredito ter sido na melhor das intenções, mas acabou sendo penalizado, porque com o Decreto de Emergência ele recebeu o benefício e quando a Defesa Civil comprovou tecnicamente que não havia substância, estabeleceu-se o ilícito. Esta decisão, portanto, não é uma prerrogativa do prefeito. Tem toda uma estrutura que envolve Emater, sindicatos, o comércio e as polícias civil e militar. Todo mundo participa disso. Então, o cidadão pode estar certo de que nós estamos atentos para o que é melhor para o município, mas que também seja legal.

É muito oportuno Prefeito, dar essas explicações, pois a gente vê as pessoas se manifestando pelas redes sociais, perguntando das razões de não ter sido decretado o Estado de Emergência. Isso esclarece que o Estado de emergência é, na verdade, uma situação não para ser comemorada, por gerar facilidade na entrada de recursos para o município. Trata-se, pelo contrário, de uma tragédia que a gente quer evitar.

Outra pauta relevante é que nós sediamos em Serro um evento que movimentou a cidade em janeiro: O 36º FESTIVALE - a maior expressão cultural e artística do Vale do Jequitinhonha. A cidade ficou animada com música, artes plásticas, poesia, festival da canção, shows de artistas novos e consagrados, culturas tradicionais, oficinas de artesanato, de fotografia, de pintura e muita festa. Sobre o ponto de vista do Executivo Municipal, qual é a avaliação, do Festivale?

Eu entendo que o balanço foi superpositivo. Basta dizer que se trata de um movimento social, cultural e ambiental. É uma promoção humana. Afinal, o Serro é um berço fértil para esses temas. O Festivale foi sucesso absoluto, graças ao envolvimento da nossa comunidade com os organizadores. O Festivale teve sua primeira edição no Serro em 1987 e novamente este ano, após sua edição na cidade de Belmonte, na Bahia, que é a foz do Jequitinhonha. Desta vez, o Festivale retornou para sua nascente. Teve a participação de cidadãos serranos na poesia e na música, como a Luiza Marilac Ramos da Silva e o Carlinhos e banda. Percebemos que, mesmo com as chuvas intensas, a energia do Festivale era mesmo contagiante, com uma participação maciça. Considero o Festivale uma oportunidade ímpar. Entendo que ele foi muito bom para o Serro e para todo o Vale do Jequitinhonha, pois levou, mais uma vez, esse recado cultural, essa cultura viva, que nos emociona sempre. A Folia de Reis, os Catopés, os Caboclos, a Caboclada dos grupos culturais do Jequitinhonha, grupos que aqui vieram de Felício dos Santos e de Araçuaí. Foi uma celebração da cultura do Jequitinhonha, uma verdadeira tempestade de arte e cultura popular, que inundou as ruas do Serro.  

Sabemos que muitos municípios ficam ávidos para que ele aconteça na sua sede. E dessa feita, especialmente no Serro, nós tivemos a sorte de ter a Fecaje - Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha, com uma diretoria de peso, como o Renato Paranhos e o José Augusto Pereira, que é o seu presidente; e ainda o apoio da entidade Vale Mais, que chegou com o seu presidente, Gonzaga Menezes, um poeta muito especial aqui do Vale e um grande apresentador. Uma pessoa também digna de ser reverenciada no Festivale é o seu idealizador Tadeu Martins. Ele foi, à época de sua criação, um dos jovens que se organizaram no período da ditadura, nos anos de 1970 e criaram o primeiro evento. Uma das cidades deste período de origem foi Pedra Azul e deste evento saiu um artista consagrado que é o Paulinho Pedra Azul.

Tivemos a alegria e a oportunidade de estar com todo esse pessoal, inclusive alguns prefeitos da região. Tivemos aqui a presença do professor, ex-prefeito de Virgem da Lapa e ex-diretor do IDENE, o querido Dinho, que nos ajudou muito a trazer o Festivale para o Serro.  Tivemos a participação efetiva das lideranças de diversos grupos culturais. Veja a dimensão da Noite Literária, onde estiveram presentes pessoas do Acre, do Pará, de São Paulo, Espírito Santo, Bahia, de diversas cidades mineiras e muitas do próprio Serro.

O Festivale foi uma luz para a cidade, uma comunidade que se sustenta pelo seu próprio princípio cultural. É assim que a gente vive aqui no Serro. O artesanato foi um show a parte. O Festival da Canção, as oficinas, tudo foi muito enriquecedor. Desta forma, entendo que o Serro ficou melhor porque o Festivale se realizou aqui e o Festivale ficou melhor porque ele foi celebrado em sua nascente. O Comércio também teve sua participação ativa. Por eles, mudamos o local de sua realização para não prejudicar exatamente esse setor que é gerador de emprego e renda. Fomos para a Praça da Matriz. Aproveito também para lembrar que o Festivale trará um efeito cascata de benefícios para os nossos jovens e crianças. Enfim, o Serro estará em outro patamar sempre que se lembrar desse Festivale. Então, meus agradecimentos a todas as instituições envolvidas e, de uma forma especial, às instituições serranas, especialmente o Condado que participou com entusiasmo, principalmente no fechamento do evento.

Prefeito há de se concordar com você, que, num momento em que o país vive dificuldades exatamente na área da cultura, o Serro dá exemplo de uma expressão cultural forte, como o Festivale. E quanto aos custos do evento para o município?

Paulo, eu lhe agradeço por esta oportunidade. Faço uma observação, que é muito importante para a comunidade: O custo do Festivale para o município não foi relevante. Nós arcamos, basicamente, com a acomodação para algumas pessoas e a alimentação para a equipe técnica, que foi muito reduzida. Isso porque o FESTIVALE é patrocinado pela Secretaria de Estado de Cultura. O município entra apenas com uma pequena contrapartida. O cidadão pode ter certeza de que não houve grande dispêndio para o município. Hoje, o Festivale custa em torno de 400 mil reais, especialmente por causa dos grupos de 30, 40 pessoas, que vem de fora. Nossa participação gira em torno de 20% destes gastos e gerou renda para o município.

Prefeito Guilherme, para finalizar, quais os próximos objetivos da administração municipal para este ano?

Estamos em um início de ano e comemorando os 318 anos do Serro, essa cidade que é e sempre foi referência para Minas Gerais e todo o Brasil, desde sempre. Aqui é a terra de Teófilo Ottoni, um dos grandes brasileiros; de João Pinheiro, governador de Minas; e tantos nomes em tantos anos de história.

Então temos a missão de honrar essas personalidades e fazer do Serro o que ele é e sempre foi, orgulho de Minas e dos mineiros, celeiro da arte, do pensamento, da história do Brasil. Essa é a missão que vamos levar até o último segundo de nosso mandato, com muita seriedade, ética, humildade e todo devoção que sempre tivemos pela família serrana.

 

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