Histórias de um fogão a lenha!


12.12.2019

Ainda queima no meu peito uma pequena brasa, aguardando o amanhecer... Estou preso ao chão. Meu corpo tem paredes erguidas em diferentes formatos. As vezes tenho vãos, para lenha guardar. Sou feito de terra, cimento e açúcar. Para todo alimento adoçar e minha pele não rachar. Sou coberto por pedras, cimento queimado, cal e azulejos. Depois do cantar do galo, sou eu que escuta a mãe, o pai a entrar na cozinha e atiçar entre cinzas e lenhas, fazendo o fogo pegar. Recebo a chaleira com água para esquentar. A panela de ferro já com perfume de banha, para o fubá suado que vai alimentar. O mancebo sempre no meu canto, pronto a receber o coador para o café passar e o dia começar... Ouço a mãe que declama os afazeres do dia. Ouço o pai que conta o progresso do trabalho: da reconstrução do telhado da matriz ao altar com ranhaduras (carpinteiro do patrimônio). Ouço o filho pequeno que chega já com fome e é deixado em meu colo. Os filhos maiores chegam já uniformizados, passam por mim aquecendo as mãos e pegando sua porção do desjejum. Vejo saírem como passarinhos, depois do rebuliço que causam. Vai o pai com a promessa que o tira-jejum chegará na hora certa... Agora, sou seu ouvinte. No rádio toca uma viola. Reclama do tempo. Agradece o dia, os filhos, a família, a comida. Faz lista em voz alta! Saudade da mãe, o que fazer de mistura para o almoço. Coloca lenha diferente para a roupa passar, o cheiro da candeia surpreende. As brasas se juntam e aguardam as panelas que tomam lugar nas minhas bocas. A chaleira com água sempre a ferver. Tenho em mim canos para água aquecer. Tudo aceito. Sou quem aquece em noite de milho assado nas brasas, pipocas estouradas no borralho de cinzas. Na beira da minha boca, assa-se queijo: é dia de risos e causos. Sou eu quem durante a noite cozinho o feijão, com fogo brando. Sou eu quem, em silencio, espero minha missão cumprir. Sou o que o tempo não leva. Não saio da lembraça. Sou apoio de corpo de quem cozinha. Sou mineiro! Sou um fogão a lenha! Tenho muito a contar...

Receita de Natal

Lombo com molho de goiabada

2 quilos de lombo inteiro. Alho. Sal. 2 folhas de louro. Temperar com alho batido com pouco sal, folhas de louro. Deixar marinar por 10 horas. Cozinhar em uma panela grossa, pingando água e fritar. Molho de goiabada: 1 lata de massa de tomate. 1 colher de molho shoyu. 1 colher de molho inglês. ½ limão espremido. 1 embalagem de molho de tomate. 1 lata de goiabada, cortada em cubos. 1 pimenta dedo de moça em rodelas. 2 paus canela. Galhos de salsa. 3 dentes inteiros de alho. Sal e 1 copo de água. 1 anis estrelado. 

Colocar todos os ingredientes em panela fundo grosso, ligar fogo, mexer até desmanchar toda goiabada. No ponto de molho, retirar os dentes de alho e a salsa. Desligar. Acrescentar 1 vidro pequeno de mostarda. Obs: pode ser usado em tira-gosto com carnes de porco e frango. 

Chef Eloísa Cardoso

Eloísa Cardoso - Chef de cozinha, resgate da tradicional culinária mineira, Membro da FGM (Frente Gastronomia Mineira)

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