Dieta Paleolítica
12.12.2019
Nossos ancestrais mais antigos, os hominídeos, que surgiram há 7 milhões de anos, alimentavam-se de folhas, frutos e, em menor proporção, de pequenos animais. O período paleolítico corresponde ao tempo que inicia-se com o surgimento do gênero homo (há 2,5 milhões de ano) e termina com o início da agricultura (há 10 mil anos). Neste período nossos ancestrais e nossa espécie (homo sapiens, que surgiu há 250 mil anos) eram caçadores-coletores. Ou seja, viviam do que caçavam e do que coletavam (folhas, frutas, nozes), sendo os vegetais a base de sua alimentação.
Somente há 10 mil anos, com a domesticação de animais e a agricultura, o homo sapiens moderno passou a consumir mais os produtos de origem animal e grãos (cereais: trigo, arroz, milho). Após a revolução industrial (iniciada no final do século XVIII), os avanços tecnológicos na produção alimentar nos conduziram a uma nova era, caracterizada pela abundância de alimentos processados (grãos e carnes), mais calóricos e baratos. Passamos a comer menos alimentos saudáveis, mais sal, gordura e açúcar. Associada a essa maior ingestão de calorias ocorreu a diminuição drástica em nossa atividade física. Não estamos vivendo como fomos feitos para viver. O equilíbrio entre a disponibilidade de comida e o gasto de energia foi quebrado e isso levou ao aumento exponencial na incidência de doenças metabólicas, especialmente a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Passamos a ter um corpo paleolítico de caçador-coletor, moldado pela evolução em milhões de anos, num mundo moderno (agrícola e industrial), criado nos últimos dez mil anos. Ainda hoje nosso corpo e nossa mente são adaptados para uma vida de caça e coleta, o ambiente que nos moldou. Somos primatas bípedes que anseiam por açúcar, sal, gordura e amido, mas ainda estamos adaptados a comer uma dieta diversificada de frutas fibrosas, legumes, tubérculos e carne magra. A tendência de ansiar por esses alimentos gordos e descansar sempre que possível, não tem valor adaptativo nas condições atuais de abundância, mas era muito vantajosa no passado, quando os alimentos eram mais escassos e menos calóricos e precisava ser muito ativo fisicamente.
A dieta paleolítica propõe a volta da alimentação de nossos ancestrais - que se alimentavam de verduras, frutas e carne, com a justificativa de que essa é a alimentação para a qual nosso organismo foi moldado por milhões de anos, na maior parte da nossa história (cerca de 99,5% do nosso tempo na Terra), até o surgimento da agricultura e, principalmente, após a explosão da indústria de alimentos (no século passado). Ficam proibidos massas, grãos e produtos industrializados, pois a grande maioria possuem carboidratos refinados como açúcar e farinha. A justificativa é que nossa genética está completamente adaptada a esse tipo de dieta e não às expressivas modificações de cardápio que sofremos recentemente.
A dieta paleolítica consta de: vegetais, evitando grãos (cereais e leguminosas); frutas; nozes; carnes; ovos. Nesta dieta não se deve comer: alimentos industrializados (processados na indústria): bolachas, biscoitos, doces, óleos vegetais de sementes; grãos (cereais e leguminosas), tais como trigo, arroz, milho, soja, feijão; farináceos de grãos, tais como bolos, biscoitos e pães; bebidas doces, como refrigerantes; e laticínios. O jejum intermitente também costuma ser combinado à dieta paleo, com a justificativa de que os homens das cavernas às vezes demoravam para encontrar comida. Recomenda-se ter duas ou três refeições ao dia.
Várias dietas foram propostas e é difícil pensar em um consenso científico sobre a melhor delas. Entretanto, a dieta paleolítica não é propriamente mais uma dieta, mas uma volta à alimentação de nossos antepassados. Esse tipo de alimentação foi praticada na quase totalidade de nossa evolução e parece ser o adequado para nosso organismo.
Dr. Sebastião Gusmão
Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Tel: (38) 3531-4016