HIDROCEFALIA
10.09.2019
Hidrocefalia (hidro: água + céfalo: cabeça; água na cabeça) consiste no acúmulo do líquido cefalorraquidiano ou líquor nos ventrículos cerebrais (cavidades do cérebro). Esse acúmulo ocorre geralmente por obstrução da circulação do líquor através dos quatro ventrículos cerebrais. O excesso retido faz os ventrículos cerebrais dilatarem, provocando compressão e danos no tecido cerebral. A hidrocefalia pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum nas crianças. Cerca de um em cada 1.000 bebês nascem com hidrocefalia.
A hidrocefalia pode ser congênita ou adquirida. A congênita está presente ao nascimento e nem sempre é possível determinar a sua causa precisa. Estão envolvidos fatores genéticos, assim como doenças infecciosas e o uso de drogas durante a gestação. Amielomeningocele, má-formação da medula espinhal, é causa frequente de hidrocefalia congênita. Bebês prematuros também correm risco maior de apresentar hidrocefalia. A forma adquirida pode manifestar-se em qualquer idade e ser causada por infecções, tumores cerebrais, traumatismos cranianos hemorragias cerebrais.
Os sintomas da hidrocefalia variam de acordo com a idade. Em recém-nascidos e lactentes os ossos do crânio ainda não estão fechados e a hidrocefalia pode ser evidente. Ocorre aumento no tamanho da cabeça e a fontanela (moleira) pode ficar tensa e abaulada. A pele do crânio pode parecer fina e brilhante, e as veias do couro cabeludo ficam cheias. A criança fica com os olhos voltados para baixo (olhar de sol poente). Ocorre irritabilidade, sonolência e atraso no desenvolvimento psicomotor.
Em crianças maiores e nos adultos, cujos crânios são rígidos, a hidrocefalia provoca um aumento rápido da pressão intracraniana e por isso nesses casos tendem a ser mais graves. Essa hipertensão manifesta-se por dor de cabeça, náuseas e vômitos, perda de coordenação, inapetência e sonolência excessiva.
A hidrocefalia congênita pode ser diagnosticada com o ultrassom durante o acompanhamento pré-natal. O mais comum, porém, é o diagnóstico ocorrer depois do nascimento, quando alguns sintomas característicos da doença começam a chamar a atenção. Exames de imagem (tomografia computadorizada e a ressonância magnética) confirmam o diagnóstico por permitirem visualizar os ventrículos cerebrais dilatados. Quanto mais precoce o diagnóstico for feito, menor será o risco de danos cerebrais.
O tratamento é cirúrgico por meio de derivação ventricular ou por restabelecimento da circulação liquórica por meio de tratamento endoscópico. A técnica mais utilizada é a derivação ventrículo-peritoneal que consiste em aliviar a pressão intracraniana desviando o excesso de líquor contido nos ventrículos cerebrais para a cavidade abdominal. Para tanto, um cateter passado por baixo da pele do pescoço e do tórax comunica o ventrículo cerebral com a cavidade abdominal. Uma válvula é interposta nesse cateter para controlar o fluxo do líquor entre as duas cavidades. Como o sistema de derivação é um tubo de silicone, ocorre frequentemente obstrução ou infecção como complicação do tratamento cirúrgico. Por tal motivo, os familiares devem estar atentos para que o quanto antes se tomem as devidas providências.
O outro procedimento cirúrgico é a terceiro-ventriculostomia. Por via endoscópica, o cirurgião faz uma perfuração no assoalho do terceiro ventrículo, restabelecendo a circulação do líquor represado.
Não existem métodos preventivos de hidrocefalia. Entretanto, pode-se reduzir o risco da doença com cuidados durante a gravidez. Deve-se iniciar o pré-natal o quanto antes e proteger-se contra doenças infecciosas. Seguir a vacinação recomendada, prevenir e tratar rapidamente infecções e outras doenças associadas à hidrocefalia.
Dr. Sebastião Gusmão
Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Tel: (38) 3531-4016