Temperos mineiros: Coisas que o tempo não leva


15.03.2019

Você já sentiu saudade da sua vida? Saudade de pequenos feitos, cheiros, sorrisos, riacho, árvores, estrelas? Sua vida em construção? Acho que eu tinha sete anos de idade e a pequena e imensa felicidade de passar vermelhão no fogão a lenha. Mãos pequenas e alvas tomando cor, a embelezar o centro da atenção da cozinha e o coração da casa (assim eu sinto) lustrava com força depois... que lindo!!! As panelas de ferro sendo areadas. Areia fina, tanto esfrega até que brilha. Uma maquiagem de cinza e água para não empretear a saudade. De subir correndo a escadaria da Santa Rita e ser inspecionada pelas freiras antes da entrada do Colégio Nossa Senhora da Conceição, que no alto do telhado tem sua imagem com as mãos estendidas, derramava bênçãos a quem chegava. Nada fugia aos olhos: unhas, orelhas, gola de blusa e meias, sempre limpos. Saudade da irmã Elizabeth, uma freira tão pequena e frágil, a frança era sua pátria, que muito ensinou das aulas de francês, artes e culinária às alunas prendadas para servir ao lar... eu conheci o mar, a capital e meu caminho foi traçado, carregando saudade da minha terra, do meu povo, saudade das noites lá em casa, antes de dormir: bênça papai! bênça mãe! Era um coro de 12 filhos... As vezes as gargalhadas eram inevitáveis, sempre um filho atentar e pedir a benção duas vezes. Castigo no outro dia com certeza. Papai lá do quarto ralhava. Não quero ouvir nem um pio! Piu... ah!.. A saudade do cheiro das maças argentinas, trazidas das viagens à capital e a casa se perfumava. A alegria da volta de um pai, saudade das amizades inocentes e verdadeiras, dos segredos adolescentes, sorrisos trocados por carinho, saudade das nuvens das bandas de lá. Brancas como algodão, dependuradas em formatos de bichos, sonhos que se formam no céu azul. Passa o tempo, tempo passa, carregando cidades, amigos que partiram, viagens, jardins em flores, festa do rosário, pracinha da matriz e bater perna pelas ladeiras, entre prosas, causos e risos. Carregando pelo mundo, o cheiro do café ralo adoçado com rapadura, bolo de fubá assado no forno a lenha.Notícia do dia assim era dada. Barraca gente! Hoje é atualizada por um turbilhão de acontecimentos que me faz sentir saudade de responder, quando alguém perguntava: você está ocupada? Eu respondia: Tô vigiando os passarinhos na minha varanda! Saudade do meu lar.

Receita: Bolachinha

  • 5 ovos
  • 2 colheres de manteiga
  • 1 colher de café de sal
  • 1/2kg farinha trigo peneirado
  • 1/2 kg de fubá de moinho d'água
  • 2 xícaras de açúcar (a gosto)
  • 1 de açúcar de rapadura ralada ou açúcar mascavo
  • 1 colher rasa de canela em pó
  • 1 colher de sopa de fermento em pó
  • 1 colher de cravo troteado e socado
  • 1,5  copo leite.

Misturar todos ingredientes secos. Misturar com um garfo os ovos e juntar à massa, junto com o restante dos ingredientes. Deixar o fermento por último. Enrolar em pequenas bolas, levar ao forno com 200 graus. Tempo aproximado de 40 minutos Perfumou a casa; está pronto. Servir com café ralo.

Chef Eloísa Cardoso

Eloísa Cardoso - Chef de cozinha, resgate da tradicional culinária mineira, Membro da FGM (Frente Gastronomia Mineira)

Voltar
Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência. Ao navegar no site, você concorda com a nossa política de privacidade e uso de cookies.