Epilepsia
15.02.2019
A epilepsia é doença relativamente comum, acometendo aproximadamente 1% da população brasileira. É caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas, que se repetem a intervalos variáveis, sendo uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro. Essas crises são manifestações de uma descarga anormal de neurônios, que são as células que compõem o cérebro. Pode ser comparada a uma tempestade elétrica, ocorrendo num grupo de neurônios. As crises podem se manifestar com alterações da consciência ou eventos motores, sensitivos, sensoriais ou psíquicos involuntários. Esses sintomas variados dependem da localização do distúrbio elétrico no cérebro.
Existem vários tipos de crises epilépticas e os sintomas de uma crise refletem a ativação da parte do cérebro afetada pela atividade elétrica excessiva. Um dos tipos mais comuns é a crise tônico-clônica generalizada, ou convulsão. Esse tipo de crise é facilmente reconhecível, pois o paciente perde a consciência e cai, apresenta abalos musculares generalizados, salivação excessiva e podemorder a língua e urinar. Uma só convulsão não significa epilepsia e cerca de 10% da população tem pelo menos um episódio de convulsão durante a vida. As crises de ausência são caracterizadas por uma breve parada da atividade que o paciente estava fazendo (“desligamento”). Essas crises podem ocorrer muitas vezes ao dia. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Existem, ainda, outros tipos mais raros de crises.
Quando se identifica a causa da epilepsia, esta é designada como sintomática, ou seja, a epilepsia é apenas o sintoma pelo qual a doença se manifesta. Em cerca de metade dos casos não se consegue detectar nenhuma causa, sendo denominada de idiopática. As crises também podem ser classificadas como focais (ou parciais), quando são originárias de uma área específica do cérebro, ou generalizadas, quando originárias de distúrbio dos dois lados do cérebro.
Existem várias causas para a epilepsia, pois muitos fatores podem lesar as células nervosas. As mais frequentes são: traumatismos cranianos, traumatismos de parto, álcool e drogas, AVC, doenças infecciosas e tumores. Muitas vezes, não é possível identificar a causa.
O diagnostico é feito por meio da avaliação do histórico do paciente, com informações sobre os tipos de crise apresentados. Exames complementares são importantes para auxiliar no diagnóstico, como o eletroencefalograma, a tomografia e a ressonância magnética do cérebro. Exames normais não excluem a possibilidade de epilepsia.
Durante uma crise convulsiva deve-se virar o paciente de lado, protegê-lo, deixar que a saliva escorra e aguardar que a crise termine, o que ocorre geralmente em poucos minutos. Depois da crise, a pessoa pode ficar confusa e cansada. Deve-se chamar uma ambulância caso a crise dure muito tempo, seja seguida por outras crises ou caso a pessoa não recupere a consciência.
No caso de suspeita de crise epiléptica deve-se procurar um neurologista, a fim de receber o tratamento adequado. Cerca de 80% dos casos de epilepsia são de fácil controle após o uso do medicamento adequado. Os 20% restantes são classificados como epilepsias de difícil controle e necessita-se o uso de mais de um medicamento. O tratamento em geral é prolongado (meses a anos). Todos os fármacos antiepilépticos podem causar efeitos adversos, o que justifica a monitorização pelo médico assistente. Pacientes bem controlados podem e devem trabalhar, praticar esportes, etc. Em pouquíssimos casos, a cirurgia é uma alternativa.
Dr. Sebastião Gusmão
Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Tel: (38) 3531-4016