A Belo Horizonte eterna


18.12.2018

A cidade de Belo Horizonte nasceu de um equívoco. Enquanto construíam a cidade planejada que sediaria a nova capital do Estado, transferida de Ouro Preto em 1897; Nova Iorque, nos EUA, estruturava e construía seu metrô, sendo as linhas fundamentais inauguradas em 1904, que estão em plena atividade até hoje.

O simples fato de considerar a mobilidade urbana em qualquer cidade planejada naquele final de século, com trens urbanos e metrôs, a região do Arraial do Curral del Rei seria descartada ao primeiro instante, por sua geografia irregular. O Arraial só foi escolhido para sediar a nova capital por causa de uma grande armação política, vencida em renhida votação. Por lei, a nova capital teria que ser construída em quatro anos, e os políticos da época consideravam aquele ermo do Curral del Rei totalmente inapropriado, sem via férrea, sem centro urbano, sem estrutura alguma, o que seria impossível de ser concretizado dentro do prazo estipulado, ficando assim a capital em Ouro Preto, de forma definitiva. Para o êxito da construção, a liderança de Aarão Reis, engenheiro-chefe da obra, foi fundamental e a cidade foi erguida em tempo recorde, com orçamento total atualizado em R$300 milhões.

A planta original de Aarão Reis para a nova capital da região sudeste foi planejada para até 200 mil pessoas: um equívoco monumental! Homem probo e ético, Reis era natural de Belém, estado do Pará, que por mais que fosse considerado referência nacional por seu conhecimento teórico no urbanismo, não havia morado ou nascido em uma grande metrópole mundial. Não poderia idealizar uma cidade além do universo que conhecia e pertencia. Assim Belo Horizonte nasceu pequena em dimensões internas e externas, extrapolando nas primeiras décadas a planta original e crescendo de forma desordenada, em todos os lados e direções.

Belo Horizonte é hoje essencialmente uma cidade brasileira, nascida ao acaso de pretensões e interesses, que foi se reinventando e se superando entre remendos, acertos e equívocos. São ruas e avenidas que cruzam e se descruzam, com seus vários pontos de conflitos, como as relações humanas, revelando uma cidade inimaginável nos dias de hoje.

Sobre Belo Horizonte, o jornalista José Maria Rabelo escreveu obra definitiva, levantando dados desde a origem do Arraial, quando a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem foi trazida da nau portuguesa que seguia para a Índia e atracou avariada no porto do Rio de Janeiro. Do porto até aqui, a imagem foi trazida pelas mãos de seu navegante português e fundador do Arraial, Francisco Homem del Rei, por volta de 1709. Quando a capital começou a ser construída, havia apenas a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, que abrigava a imagem, e 200 míseras casas, que foram dizimadas pela comissão construtora.

As cidades não se medem em suas plantas, nos planos diretores. Ela é a soma dos sonhos de sua gente, dos anseios daqueles que as habitam e povoam suas ruas com vida, música, poesia. Belo Horizonte é muitas e todos os dias ela se põe dentro do coração das pessoas que a amam e acreditam nela; como eu!

Petrônio Souza Gonçalves

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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