DOR LOMBAR
22.08.2018
A dor lombar (lombalgia) - dor na parte inferior das costas - é um dos mais difundidos problemas de saúde pública. Acomete 80% da população em algum período da vida e 13% da população brasileira de forma crônica.
Algumas causas secundárias determinam lombalgia, mas a dor lombar inespecífica (causas mal compreendidas) é a mais comum. Existe um equilíbrio entre o modo como usamos as costas e o grau de saúde que exibem. Costas normais são usadas com variados graus de intensidade moderada durante todo o dia.
Indivíduos com níveis de atividade física muito baixos e muito altos apresentam maior risco de sofrer lesões. A baixa atividade física determina atrofia e a alta predispõe a dano por fadiga. Ou seja, nossa coluna foi moldada para funcionar sob moderada atividade física. Nosso corpo não foi adaptado pela evolução para suportar grandes cargas nem para lidar com as modernas tecnologias que possibilitam o sedentarismo. Estas são em princípio inofensivas e benéficas (confortáveis, convenientes e prazerosas), porem em excesso causam problemas que se acumulam ao longo do tempo.
Na quase totalidade da história, a seleção natural adaptou o corpo humano para atividade física moderada e diária (coleta e caça). Após a revolução industrial, o equilíbrio entre a disponibilidade de comida e o gasto de energia (grande ingestão de alimentos calóricos e sedentarismo) foi quebrado, e isso levou ao aumento exponencial na incidência de doenças metabólicas e dor lombar.
Gostamos de descansar e relaxar e passamos nossos dias dentro de casa sentados em cadeiras, olhando para livros e telas, mas nossos corpos ainda são os daqueles antepassados que evoluíram para realizar grandes caminhadas e muitas vezes carregar peso. Em consequência, milhões de pessoas sofrem de lombalgia, que era rara. O fundamental é mudar o ambiente e o comportamento para promover saúde por meio de prevenção.
Evoluímos para “usar ou perder”. Nossos ossos e músculos precisam ser estressados o bastante, mas não demais. Passar várias horas sentado e inativo em cadeiras confortáveis determina atrofia muscular, especialmente nos músculos das costas e do abdome que estabilizam o tronco. Isso predispões aos músculos do tronco ficarem fracos e encurtados e fatigarem-se rapidamente.
A dor lombar inespecífica é em parte um desajuste evolutivo. Caçadores-coletores usavam suas costas moderadamente – nem de maneira tão intensa quanto agricultores de subsistência nem tão minimamente quanto empregados de escritório sedentários. Costas normais precisam ter considerável grau de flexibilidade, força e resistência. As pessoas que passam a maior parte do tempo sentadas desenvolvem costas fracas e inflexíveis, sendo mais propensas a experimentar estiramentos musculares, ligamentos rompidos, articulações estressadas, discos abaulados e outras causas de dor quando submetem suas costas a movimentos incomuns, estressantes. No outro extremo estão pessoas que realizam atividades estressantes que causam lesão de esforço repetitivo nos músculos, ossos, ligamentos, discos e nervos das costas.
Exercícios físicos reduzem a dor lombar por alongar os músculos tensos, fortalecer os grupos músculos enfraquecidos que suportam a coluna, corrigir a postura e reduzir a carga mecânica sobre a coluna. A marcha e a natação são especialmente eficazes no fortalecimento dos músculos lombares. A inatividade e longos períodos sentado têm impacto negativo no sistema músculo-esquelético, enfraquecendo ossos e músculos.
O passado do corpo humano foi moldado pela evolução através da seleção natural, mas o futuro de seu corpo depende de como você o usa.
Dr. Sebastião Gusmão
Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Tel: (38) 3531-4016