Tributo a Ginés Garcia
24.10.2024
O Sanitarismo latino-americano perdeu no último dia 18 uma de suas maiores expressões, o argentino Ginés González Garcia, ex-ministro da Saúde nos governos de Eduardo Duhalde e de Alberto Fernandez.
Amigo do Brasil, administrador capaz, referência do Peronismo, conduziu o país vizinho na difícil batalha contra a Covid com as mais eficientes de suas armas, a vacina e o isolamento social. Preservou vidas e o sistema público de saúde, a despeito do contingente de negacionistas e dos grupos antivacina e vendedores de ilusões milagreiras que o atacaram com a acusação de ter privilegiado um grupo de idosos de seu entorno na vacinação. Isso não colou.
Cumpriu sua missão com profissionalismo e visão humanista.
Convivi com Ginés no período em que ocupamos os Ministérios da Saúde dos nossos países. Já o conhecia, discípulo que foi de outro grande sanitarista argentino, Mario Hamilton, que participou com seu vasto conhecimento organizacional e liderança, da equipe de jovens idealistas que aqui em Minas, no projeto-piloto de Montes Claros, traçou caminhos e avançou na consolidação da chamada Reforma Sanitária.
Fomos, também, como Ginés, discípulos de Mario Hamilton, que exilou-se no Brasil durante a ditadura militar argentina, trabalhando como Pesquisador e Consultor da Fiocruz.
A vitoriosa trajetória do “El Gordo” Ginés Garcia, o sorridente peronista apaixonado pela vida, a Medicina e o Racing Club, foi reverenciada nestes dias por grandes expressões da política e da ciência, de Cristina Kirchner a vários de seus antigos companheiros.
Seu maior elogio, no entanto, se é que podemos chamá-lo assim, veio do extravagante e verborrágico presidente Javier Milei, que quando o sanitarista ainda estava sendo velado na capital, postou em suas redes sociais que acabara de morrer “uma das mais sinistras” personagens da Argentina, “responsável por um dos mais longevos isolamentos sociais do mundo durante a pandemia”.
Partindo do sinistro presidente, cuja incontinência verbal o levou a passar nos últimos oito meses pelo menos 650 horas e sete minutos na Rede X insultando chefes de Estado estrangeiros, professores, estudantes e aposentados, segundo levantamento publicado pelo jornal Pagina12, essa agressão descontrolada é a maior das tantas homenagens ao amigo Ginés.
Descansará agora o ex-ministro, embalado pelo sono eterno reservado aos justos e a quem combateu o bom combate.
*Saraiva Felipe é Médico Sanitarista, Professor universitário, ex-ministro da Saúde e deputado federal por seis mandatos