São Gonçalo do Rio das Pedras, História viva da colônia portuguesa no Serro Frio
15.03.2018
Iniciamos uma série de matérias sobre Serro e Região com o objetivo de divulgar suas belezas e particularidades.
Nesta edição, abordaremos o distrito de S. Gonçalo do Rio das Pedras, sua arquitetura singela, sua cultura preservada, suas belezas naturais e a hospitalidade da comunidade local.
Assentada a 1.150 metros de altitude, entre Serro e Diamantina, São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito de Serro, é um cenário vivo de filme de época do Brasil colonial. A comunidade leva a sério sua cultura e mantém viva a missão de resgate de sua história bravamente gravada nas pedras da Serra do Espinhaço.
Serro soube preservar o respeito às origens.
A trincentenária cidade de Serro, uma das comarcas mais antigas de Minas, preserva tradições que hoje são o orgulho de sua população e compõem um dos mais autênticos acervos da cultura colonial mineira.
Os casarões do município sede em harmoniosas sequências de janelas, beirais e telhados fazendo uma unidade arquitetônica ímpar; as igrejas e escadarias, testemunhos do poder e da fé; o calçamento de pedras nas ruas reinventando o brilho do tempo em que não existiam os automóveis; as festas do folclore afro brasileiro; as famílias tradicionais; a lembrança viva da escravidão negra; as cavalgadas; o queijo; o artesanato miscigenando as culturas africana e indígena; os quilombos em persistente luta para preservar sua forma de vida tradicional e a resistência consciente da população ao frenético mundo da velocidade de tudo.
Este rico conjunto é o que cria singularidades na cultura da região de Serro e a faz diferente de tudo o que conhecemos. Por isso, encanta todos de todo o mundo.
Na esteira deste espírito serrano de preservação, vive também o distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras resistindo às pressões violentas e desumanizadoras da vida atual nos grandes centros.
No desordenado mundo de hoje, onde as pessoas valem menos do que as coisas e tudo se destrói em nome do “deus” dinheiro, esta pacata vila do século 18 representa o que poderíamos chamar de paraíso da resistência ativa. Uma testemunha consciente e guardiã de nossa história.
Em São Gonçalo se preserva a delicadeza do convívio harmônico e respeitoso entre as pessoas. A hospitalidade se mostra espontânea, desde o sorriso de um simples bom dia, até a profunda sabedoria e alto grau de religiosidade dos anciãos deste antigo ponto de pouso de tropeiros.
Passear pelas suas ruas singelas é viajar no nosso passado colonial e faz-nos lembrar da grandeza que existe na vida simples e calma, que, infelizmente, estamos perdendo hoje.
A lenda, a História
Conta-se que havia na vila um menino solitário, sem família, que sempre brincava no pé de uma goiabeira, no alto do morro. Um dia, foi encontrada na goiabeira uma imagem de S. Gonçalo e foi levada a Milho Verde, pois somente lá havia uma capela que pudesse guardá-la.
Misteriosamente, a imagem retornava repetidas vezes ao pé da goiabeira no alto do morro. Associando a milagrosa imagem de S. Gonçalo ao menino, a comunidade resolveu homenagear o santo português e erigir ali uma igreja, hoje, a Matriz de S. Gonçalo, possivelmente construída antes de 1732. Os registros indicam que em 1732 já existiam casas, roças e engenhos.
Em função do garimpo de diamante, a região era duramente vigiada pela Coroa Portuguesa. Quem viesse de Diamantina em direção ao Serro e de Serro à Diamantina passava por uma rigorosa fiscalização em Milho Verde. Se alguém fosse pego fora da Estrada Real, se submetia a duros interrogatórios e vistorias da fiscalização.
O silêncio como patrimônio cultural turístico
Diferente da maioria das pequenas vilas, que buscam seu modelo de desenvolvimento nos grandes centros urbanos, em S. Gonçalo, pelo contrário, preserva-se a cultura e a tradição locais, autênticas. A pacata vila guarda praticamente intacta sua cultura ancestral e mantém viva a consciência da preservação de seu modo de vida tradicional, sua arquitetura e paisagens.
Longe de ser um destino barulhento, lá ouve-se, tranquilha e claramente, passarinhos cantando nas árvores e os galos à distância. Todos ali reconhecem e valorizam o silêncio, inclusive e, especialmente, para o turismo.
No decorrer de sua história, os valores e costumes locais foram preservados, talvez, até mesmo por necessidade de autodefesa e afirmação de sua própria identidade. Essas características marcantes e o cuidado que se tem com a sua cultura e hábitos locais são sinais de consciência e de senso de cidadania da população local.
As pousadas charmosas e aconchegantes, os festivais de gastronomia, as festas religiosas, as cachoeiras no seu entorno, restaurantes e bares disputando a excelência da melhor cozinha regional, o artesanato de capim, os doces, vinhos, as cachaças de frutas, são produtos que, de tão regionais e singulares, alcançam o universal, trazem riqueza e guardam um imenso potencial de emprego e renda no distrito.
As enormes pedras nas ruas, ainda que desconfortáveis para os automóveis modernos, são para a população, um precioso testemunho da história das famílias locais. Alí está o registro histórico das mãos de antigos moradores de famílias tradicionais, que tornaram esta vila tão singular e que fascina visitantes nacionais e estrangeiros.
Gastronomia de raiz atrai visitantes de várias regiões
Festival de tira-gosto.
No mês de maio, S. Gonçalo já é conhecido pelo Festival De-tira-em-tira, atração que incrementa o turismo com iguarias típicas, que vão desde a linguiça caseira com tiras de banana, passando pelos rolinhos de taioba ao molho de jabuticaba, ao cupim recheado, o delicioso frango com mandioca e alecrim e outras surpresas de sabores que encantam quem participa.
Festival do frango caipira
Nos meses de outubro e novembro, o festival que homenageia o cardápio do frango caipira já se fixou no calendário regional. Desde o famoso frango com quiabo, o disputado frango ao molho pardo, até as mais inusitadas combinações gastronômicas tem como principal personagem, o mineiríssimo frango, que, até hoje, enche as mesas mais tradicionais e retrata a essência da cultura mineira.
Eventos culturais
Festival de férias
Todos os anos, no mês de janeiro, a programação do Festival de Férias conta com oficinas de artes plásticas e cênicas, percussão, dança, construção de instrumentos musicais e literatura nas escolas, praças e ruas.
À noite, o visitante é brindado com exibições de filmes e documentários, além do tradicional forró, que orgulha a população local e mexe com as energias o visitante.
Eventos religiosos
Festa do Rosário
Em outubro, acontece a Festa do Rosário. O evento, de origem afro-brasileira, resgata o tempo em que se perpetuava a historia e as lendas dos povos por meio de danças e celebrações religiosas, fundamentais na formação da história de Serro e região.
Festa de São Gonçalo.
Realizada todos os anos no segundo final de semana de janeiro, a celebração religiosa atrai fieis e visitantes de toda a região. Novenas, procissões, fogos de artifício e hasteamento do mastro são os principais atrativos. Completa a alegria os shows e os forrós, atividade de lazer fundamental para a população.
Atrativos naturais
Além da riqueza de sua cultura, S. Gonçalo complementa o prazer do visitante com atrativos naturais, como a Cachoeira do Cadete, Serra e Pico do Raio, pinturas rupestres, Cachoeira do Bananal, Cachoeira do Retiro, Cachoeira do Comércio, Cachoeira do Pacu, Cachoeira da Grota Seca, Rio Jequitinhonha, Pedra da Rapadura e cachoeiras subterrâneas.
A população de São Gonçalo, atualmente, mantém firme a posição de que seu patrimônio maior como destino turístico reside, exatamente, nessas particularidades culturais, suas ruas de pedra, as casas bem caiadas e na sua singela arquitetura religiosa.
Desta forma, o povo de São Gonçalo admira, reconhece, preserva e prestigia seu valor cultural e paisagístico com uma pacata vila do século XVIII.
A comunidade tem por objetivo perpetuar este patrimônio e atrair o turista sensível, aquele visitante que, fugindo dos frenéticos e barulhentos centros urbanos, busca paz e tranquilidade para os seus sagrados dias de descanso.