Dor de Cabeça
22.02.2018
A dor de cabeça ou cefaleia é talvez o mal que mais acomete a humanidade. Entretanto, o cérebro é insensível à dor. As estruturas no crânio sensíveis à dor são principalmente as artérias, as meninges e os músculos. Nestas estruturas está a origem da dor de cabeça.
A dor de cabeça pode ser determinada por vários fatores ou doenças. Mas do ponto de vista prático podemos dividir as cefaleias em dois grupos: primárias e secundárias. Nas primárias a dor constitui a própria doença. São representadas pela enxaqueca e pela cefaléia tensional que acometem grande parte da humanidade. As secundárias são causadas por inúmeros fatores que vão desde uma ressaca até um tumor ou hemorragia cerebral.
Assim, uma dor de cabeça pode ser um fato banal ou sinal de uma doença. Quando ocorre dor intensa ou persistente é fundamental a avaliação médica. O médico irá definir se se trata de cefaléia primária (enxaqueca ou cefaleia tensional) ou cefaléia consequente a alguma doença: lesão estrutural do cérebro ou do crânio, alteração metabólica ou infecção. A dor deve ser sempre vista como um sinal de alarme indicando que algo está errado em nosso organismo. No caso de suspeita de dores de cabeça secundárias ou incomuns, o médico pode pedir exames para excluir causas graves, como um tumor. Dois exames são comumente utilizados: tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Vamos abordar aqui apenas as cefaléias primárias que mais acometem a humanidade: cefaléia tensional e enxaqueca.
A cefaleia tensional é geralmente uma dor difusa, de leve a moderada intensidade na cabeça, muitas vezes descrita como a sensação de uma faixa apertando o crânio. É o tipo mais comum de dor de cabeça, e cerca de 38% a 74% dos brasileiros sofrem com cefaleia tensional.
A cefaléia tensional ou cefaléia por contração muscular acomete principalmente o indivíduo adulto e preferencialmente as mulheres. È geralmente bilateral e localiza-se principalmente nas regiões frontal e occipital, mas podem acometer toda a cabeça. Trata-se geralmente de dor surda e persistente e descrita como uma sensação de peso, pressão ou aperto. Nos casos mais leves, a cefaléia se desenvolve durante ou após tensão emocional. Na forma crônica, o paciente percebe a cefaleia assim que levanta e assim permanece através do dia, sem relação com o conteúdo emocional das atividades diárias. É frequente a cefaléia tensional nos pacientes deprimidos e ansiosos. Quanto à freqüência e duração, pode ocorrer desde cefaléia de uma hora de duração, recorrendo a cada poucos meses, até dor sem remissão, presente o dia todo.
Um fator constante na produção da cefaleia de tensão parece ser a incapacidade de relaxar os músculos da face, do couro cabeludo e da nuca. O músculo em tensão prolongada impede a passagem do sangue através dele, levando ao acúmulo de substâncias tóxicas que desencadeiam a dor. Dores de cabeça tensionais são geralmente desencadeadas por algum tipo de estresse de origem externa ou interna. Estar exposto ao estresse diariamente pode levar à cefaleia tensional crônica.
O tratamento primário consiste no combate à ansiedade e depressão, que geralmente estão associados à cefaleia tensional. Isso é feito por meio de psicoterapia e técnicas de relaxamento. O tratamento medicamentoso é realizado por meio de antidepressivos e tranquilizantes. Cada caso requer uma conduta terapêutica específica.
A enxaqueca ou migrânea é cefaléia de forte intensidade, unilateral, pulsátil ou latejante, acompanhada de náusea, vômitos, fotofobia (intolerância à luminosidade), fonofobia (intolerância à sons altos) ou osmofobia (intolerância a diferentes cheiros), podendo ser precedida de aura (sintoma neurológico transitório, comumente sob a forma de alteração de campo visual ou cintilações).
A enxaqueca afeta grande parte da população mundial e é mais comum em mulheres. Pode iniciar-se na infância e é rara aparecer depois dos 45 anos. Pode ser uma queixa de toda a vida. Mais da metade dos pacientes com enxaqueca apresentam uma história familiar, indicando que trata-se de doença herdada, através de um gene.
A freqüência das crises podem variar de crises raras a várias crises semanais e geralmente persistem por menos de um dia. Vários fatores podem precipitar ou agravar as crises, como: tensão, alterações hormonais, alimentos e hipoglicemia. A crise durante o período da menstruação é, muitas vezes, mais intensa e mais prolongada e é denominada enxaqueca menstrual.
Poucos minutos antes de iniciar a dor, muitos pacientes apresentam distúrbios visuais: começa a ver pontos cegos, pontos luminosos, vagalumes ou só conseguem ver a metade dos objetos que enxerga. A dor é sempre pulsátil ou latejante. Alguns pacientes relatam que “é como se o coração estivesse pulsando na cabeça”. Pode ocorrer de um só lado da cabeça ou em ambos.
A enxaqueca é causada por um desequilíbrio químico no cérebro. Esse desequilíbrio envolve hormônios e substâncias denominadas peptídeos e neurotransmissores.
Muito se sabe hoje a respeito da enxaqueca e muito pode ser feito pelo paciente que sofre dela, mas não há cura completa e satisfatória. A enxaqueca não destrói a vida, mas pode destruir a alegria de viver. Por tal motivo é fundamental o tratamento com o especialista (neurologista). O tratamento consiste em medidas quanto aos hábitos de vida e o uso de medicamentos. Felizmente, nos últimos anos foram desenvolvidas algumas drogas potentes para o combate das crises de enxaqueca ou para a prevenção das mesmas.
Em conclusão, frente a um quadro de dor de cabeça o fundamental é procurar um médico, que por meio de exames determinará se a cefaleia é primária (cefaléia tensional, enxaqueca) ou secundária (consequente a uma doença ou lesão). Apesar da cefaléia tensional e da enxaqueca não terem uma cura definitiva, elas podem ser controladas por meio de tratamento adequado.
Sebastião Gusmão
Especializado em neurologia e neurocirurgia pela Universidade de Strasbourg e Universidade de Londres. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo. Doctor Honoris Causa pela Universidade de Amiens (França). Professor Titular de neurocirurgia da Universidade Federal de Minas Gerais. Professor convidado de universidades europeias e americanas. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Autor de 9 livros e 130 artigos científicos.
Dr. Sebastião Gusmão
Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Tel: (38) 3531-4016