A HISTÓRIA DE UM HOMEM QUE FEZ O QUE OUTROS NÃO TIVERAM CORAGEM DE FAZER
31.03.2017
Ele nasceu no dia 18 de abril de 1928, no Serro, filho de Adelardo Ribeiro de Miranda e Nathalia Nunes de Miranda.
Foi casado com Geny Pires de Miranda com quem teve oito filhos: Walderez Filho, Epaminondas (Nondas), Adelardo Neto, Marina, Nathalia, Geny, José Walter e Wander.
Esse é Walderez Ribeiro de Miranda, comerciante e serrano de coração, com muitas histórias pra contar. Com uma sensibilidade e amor nas palavras, principalmente quando fala da esposa, falecida há 10 meses.
O senhor Walderez começou o ginasial em Diamantina, onde fez a primeira série. Depois se transferiu para o ginásio do Serro onde terminou os estudos.
Trajetória no comércio
Muito cedo começou sua trajetória no comércio. Tão logo deixou o ginásio o irmão mais velho, José Oswaldo de Miranda, o convidou para juntos, abrirem um depósito de queijo em Belo Horizonte. Ele lembra que falou a José Oswaldo que não tinha dinheiro para investir, mas que daria um jeito. E foi o pai Adelardo, na época coletor, quem o ajudou financeiramente. Como não podiam ficar por conta só do depósito, pois tinham que cuidar de outras atividades comerciais, foi outro irmão, Hélio Brasil de Miranda, quem ficou responsável por ele.
Ficou para Walderez a missão de vender o queijo que fabricavam nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Ele conta que numa dessas viagens à São Paulo, foi incumbido por um serrano de levar uma carta à casa de um conde em São Paulo. Quando lá chegou descobriu que ele era na verdade um grande industrial que fabricava macarrão. Como naquela época ele e os irmãos já tinham um grande comércio no Serro, abastecendo cidades vizinhas com macarrão, açúcar, queijo e cachaça ele comprou uma boa quantidade de macarrão que, por ser direto na fábrica acabou saindo por preço bem abaixo do que costumava comprar para revender. Aproveitou e também comprou açúcar.
Lembra que tropas de comerciantes vinham de Sabinópolis e São Pedro com mercadorias que seriam levadas para o comércio de Diamantina e quando chegavam ao Serro, ele e o irmão arrematavam todo o estoque dos tropeiros evitando assim que a mercadoria chegasse por meio deles em Diamantina.
Caberia então a Walderez e o irmão José Oswaldo a venda desses produtos naquela cidade.
Dessa forma o negócio foi crescendo e hoje Walderez é lembrado como o precursor do comércio no Serro.
As viagens por estradas de terra e lama
Ele lembra com orgulho e saudade das viagens que fazia à Diamantina, dirigindo seu caminhão cheio de mercadorias para serem comercializadas.
As vendas de queijo e cachaça para o Rio de Janeiro e São Paulo, com o passar do tempo foram aumentando. Apesar das dificuldades de transporte, pois grande parte das estradas era de terra e, no período de chuva ficava quase intransitáveis, ele disse que eram desafios a serem vencidos para o sucesso do empreendimento.
Visão para novos negócios
Naquela época gasolina no Serro era vendida em latas. Cada uma tinha uma quantidade determinada do combustível e assim eram negociadas. Walderez lembra que decidiu que era hora de mudar isso e introduziu na cidade a primeira bomba de gasolina elétrica. Lembra também que às vezes tinha que fabricar peças para o caminhão ou alguma máquina que usava na fazenda ou no comércio e tinha que ir a Belo Horizonte procurar um torneiro para isso. Viu aí a possibilidade de diminuir seus gastos e ganhar dinheiro. Comprou um torno mecânico e trouxe para o Serro. Mas de nada adiantava ter a máquina se não tivesse quem operá-la. Lembrou- se do torneiro que fazia as peças para ele na capital e resolveu contratá-lo, trazendo-o para o Serro. O que facilitou a vinda desse torneiro é que ele era filho de Conceição do Mato Dentro.
Distante da política
Pai do último ex-prefeito do Serro, Epaminondas de Miranda ou simplesmente Nondas como é conhecido, o senhor Walderez, nunca se envolveu com política. Ele diz que quando Nondas se candidatou a prefeito a mãe, dona Geny, não queria e tentou de todas as formas fazê-lo desistir, mas não conseguiu. No dia da eleição ela se negou a ir votar, fato esse confirmado pelo próprio Nondas. Mas o senhor Walderez disse que apoiou o filho para que ele pudesse viver novas experiências. No final do mandato, Nondas teve a aprovação do pai e da mãe que consideraram sua gestão muito boa. Ele diz que a única coisa que o filho fez de errado foi se candidatar a prefeito, mas que no final deu certo.
Uma vida pelo Serro
“Sempre quis fazer no Serro o que todo mundo achava que tinha que ser feito, mas não fazia, e eu fiz”, lembra o senhor Walderez.
Ele vê a população do Serro um pouco acomodada quando se trata de divulgar as coisas da cidade. Para ele os jovens serranos têm mais vontade de divulgar e mostrar a cidade e, o Serro tem muito que mostrar. “É minha terra natal e eu gosto muito daqui”, completa ele.
A casa do senhor Walderez é como seu coração, aberta. Durante o tempo que estive lá, fazendo essa entrevista, aproximadamente uma hora e meia, mais de 15 pessoas entraram e saíram dela. A porta está sempre aberta e as pessoas têm lá uma extensão de suas casas. Ele diz que isso é mais por causa da esposa falecida. “Ela foi criada na fazenda e lá era assim, um entra e sai danado. Quando viemos para cá ela manteve a tradição. São pessoas amigas nossas que vêm dos distritos e de outras cidades para compras ou tratamento de saúde no Serro e, passam aqui para tomar um lanche, almoçar e até jantar. Minha porta sempre esteve, está e estará aberta para receber as pessoas de bem, nossas amigas. Uma herança que minha esposa deixou e, vou honrar”.
Aliás, é quando fala da esposa que o senhor Walderez se emociona e mostra toda a sensibilidade que tem. Ele diz que só não é totalmente feliz porque ela não está mais com ele. “Ela era minha companheira, incentivadora, amante e amiga. Meu braço direito”. Dona Geny Pires de Miranda faleceu há dez meses e, ao falar dela o senhor Walderez chora copiosamente.
Mas ele termina essa entrevista dizendo: “Não me queixo da vida”.