O desafio histórico do desenvolvimento x conservação no Médio Espinhaço


14.06.2022

A formação geológica e da paisagem da cordilheira da Serra do Espinhaço caracterizou sua ocupação antrópica ao longo da história de Minas Gerais e também da Bahia. A Serra do Espinhaço foi o norte que guiou essa ocupação que foi também influenciará pela exploração de sua rica diversidade de recursos minerais. A agenda agropecuária evoluiu em paralelo aos processos de mineração do Ouro ou Diamante e serviu economicamente como apoio de sustentabilidade à atividade de extração mineral.

Os impactos ambientais de três séculos da atividade de exploração mineral intensa deixaram marcas não apenas na paisagem geográfica mas, sobretudo,  na constituição sociocultural e na formação das comunidades da região da Serra do Espinhaço, cujo imaginário e arquétipo ajudaram a constituir “homens de montanha”.

A ocupação, o uso do solo e as atividades econômicas associadas, especialmente, à mineração e à agropecuária, nesta região contribuíram decisivamente para que os remanescentes da vegetação nativa fossem sistematicamente desmatados, ao longo de séculos. Tal fato torna imperativo que esforços permanentes para a restauração florestal e o fortalecimento de serviços ecossistêmicos sejam articulados e implementados, em escala, na Serra do Espinhaço.

Todos esses cenários encontrados nos territórios da Serra do Espinhaço reafirmam, como fator imperativo, a necessidade da proposição de uma estrutura central, um eixo estrategicamente inserido no centro geográfico da Serra do Espinhaço, para funcionar como pilar para pensar o território da Serra do Espinhaço e, a partir desse ponto central, fomentar e difundir as mais modernas pesquisas, tecnologias e plataformas para o desenvolvimento sustentável, sobretudo, para a segurança hídrica e minimização dos efeitos das mudanças climáticas, agendas que devem ser integradas e alicerçadas pelo fato dessa cordilheira ser um sítio reconhecido mundialmente como uma Reserva da Biosfera da UNESCO.

Única cordilheira brasileira, a Serra do Espinha­ço começa agora, 300 anos depois dos primeiros relatos de naturalistas europeus, a ser foco de aten­ção e cuidado em todo o mundo. A Cordilheira do Espinhaço possui montanhas, serras, montes, vales reunidos por um mesmo motivo: dobramen­tos geológicos acontecidos no final do período pro­terozoico, ou seja, há mais de 2,5 bilhões de anos.

A Serra do Espinhaço tem um papel estratégi­co no território brasileiro, distribuindo, dividindo e abastecendo mais de 20 milhões pessoas. E é exa­tamente por conta dessa importância que nossos olhares devem estar ainda mais atentos para a pro­posição de iniciativas que promovam novas mode­lagens, a partir do conhecimento dos territórios e seus ecossistemas, incluindo os dilemas que os ter­ritórios experimentam: êxodo rural, mineração, monoculturas e extração ilegal de plantas e animais despontam no pior cenário.

Luiz Claudio de Oliveira
Filósofo, fundador e presidente do Instituto Espinhaço

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