A FÉ QUE MOVE A FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO


07.06.2017

A novena começa no dia 23 de junho na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A Festa movimenta o Serro entre 1 e 3 de julho. A abertura é na madrugada de sábado, dia 1 de julho.

O sentido racional que o ser humano pretende dar ao mundo, muitas vezes é invadido por uma pequena palavra, ampla de significado: a fé. O que é fé? Como explicar este fenômeno mais que humano? Talvez a melhor maneira de entender este sentimento seja se aproximar dele. A sensação da fé é contagiante, tanto que mesmo os incrédulos se alimentam da sua força em momentos de comunhão. É quase inverossímil a possibilidade de uma pessoa que não tenha sido invadida por esta sensação pelo menos uma vez na vida. Quando desejamos, nos enchemos de esperança no “tudo vai dar certo”, nos imbuímos de fé. A torcida por uma conquista, seja ela qual for, é uma atitude de fé. A fé não é necessariamente um sentimento religioso, mas uma sensação para lá de humana. No Serro, percorrer os caminhos da fé é deixar-se levar pelos cânticos e sonoridades da Festa de Nossa Senhora do Rosário.

A Festa

No adro da Igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário, no Serro, a comunidade pede licença para abrir as portas da Festa em homenagem à Santa, na madrugada do sabado. Os gemidos dos negros cativos ecoam do pífaro e tambores da Caixa de Assovios e anunciam que é o momento de seguir a tradição, firmada pelo "Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rozário na Freguezia da Conceyção da Villa do Príncipe do Sêrro do Frio no Anno de 1728".

As luzes estão apagadas e as portas da Igreja, fechadas. A Caixa de Assovio entoa sua "Ave Maria" por três vezes e por três vezes repicam os sinos e gritam os fogos de artifício na madrugada, contando aos que ficaram em suas casas que agora a Festa vai começar. As portas da Igreja e da Festa se abrem, as luzes se acendem e a Caixa de Assovios toca diante do altar: Nossa Senhora oferece simbolicamente a sua permissão para iniciar a Festa. A ginga e mandinga dos filhos de Nossa Senhora do Rosário saem da Igreja e tomam o caminho das casas da Rainha, Rei, Juízes para anunciar a permissão concedida. Os festejos podem seguir com as bênçãos de Nossa Senhora.

Então começa a fartura. Na casa dos festeiros, esperam e recebem o cortejo banquetes dignos de reis e rainhas. Na Matina, caldos, canjica, quitandas, toda a sorte de temperos alimenta a fome e os pecados de uma multidão afoita, que mal se contem para esperar que os donos da casa recebam as bênçãos pela comida ofertada e anunciem a liberação da mesa. E segue o cortejo: Primeiros Juiz e Juíza; Segundos Juiz e Juíza; Rainha; e, finalmente, a casa do Rei.

À noite, é hora de outro festeiro, o Mordomo do Mastro, saudar Nossa Senhora. Na Igreja, a oração dos fieis renova a esperança e confirma a fé, enquanto os dançantes - que se apresentam sem as vestimentas - rumam à casa do Mordomo para buscar a Bandeira dedicada a Nossa Senhora. O cortejo retorna à Casa Santa e a Bandeira recebe as bênçãos do Vigário para então subir ao mastro, cravado no Largo do Rosário. A devoção e alegria das danças enfeitam o ritual, que é encerrado com fogos de artifícios.

As cores do Rosário

Alimento para a retina - que registra e inspira lembranças multicoloridas -, o domingo é o dia da apresentação dos Congados. Caboclos vermelhos, salpicados de cores, dançam a integridade e leveza dos índios. Sisudos Catopês acompanham o Reinado ao som da Caixa de Assovios, em cortejo suave e sublime, próprio dos que alcançaram a sabedoria. Marujos com espadas e soberba anunciam a chegada das esquadras portuguesas.

É também no domingo, que Caboclos e Marujos encenam a Embaixada, um ritual de encontro entre grupos rivais, que devolvem o caciquinho ou o gajeiro preso, como sinal de paz entre brancos e índios, que agora compartilham o mesmo território. É a união das raças: índios, brancos, negros - Caboclos, Marujos, Catopês.

Despedida

Amanhece a segunda-feira dedicada ao segundo reinado, ou seja, é o dia da posse dos festeiros eleitos entre os irmãos do Rosário para conduzirem a festa no ano seguinte. Segunda é também o dia dos doces: doce de leite colorido, doce de mamão, bombom, brigadeiro, cajuzinho, olho de sogra, bala delicia!  É neste dia que os festeiros entregam aos escolhidos, para manter a tradição no ano seguinte, os símbolos do Juiz, a Vara; do Rei e da Rainha, a Coroa e o Cetro. A despedida é na Igreja do Rosário. E então é possível entender o poder, a força desta manifestação, que impõem ao rigor católico, a encenação de danças, cânticos e rituais outrora considerados pagãos: “Adeus campo do Rosário terreiro de sentimento, Adeus minha virgem Santa, esposa de São José. Até, até para o ano, se Deus Nosso Senhor quiser”.

Festejos

Quem quiser acompanhar todos os festejos, a novena começa no dia 23 de junho na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A Festa movimenta o Serro entre 1 e 3 de julho. A abertura é na madrugada de sábado, dia 1 de julho, na Matina, seguida pelos cortejos de Catopês, Marujos e Caboclos pelas ruas da cidade. No sábado à noite, é o momento do Mastro, e no domingo, dia 2 de julho, seguem os cortejos, agora com a indumentária festiva dos congados. Na segunda-feira, o reinado que será responsável pela festa, em 2018, toma posse.

FESTEIROS 2017

  • Rei: Geraldo Romualdo
  • Rainha: Mara Generoso
  • 1° Juiz: Fernando dos Santos
  • 1ª Juíza: Dulce Ventura Silva
  • 2° Juiz: Bruno Emanuel Andrade
  • 2ª Juíza: Otília de Fátima Silva
  • Mastro: Famílias Dumont e Reis
  • Coroação - Terezinha Pereira de Jesus e Família
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