Antes tarde do que nunca
12.08.2019
Pronto! O Brasil tem agora a menor taxa básica de juros de sua série histórica, iniciada em 1996. Depois de mais de um ano sem mexer na Selic, como é chamada a taxa básica de juros da economia brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) resolveu reduzir a taxa de 6,5% para 6% ao ano. É um número baixo para um país acostumado com taxas de dois dígitos. A série disponível no site do Banco Central mostra que convivemos durante muitos anos com números acima de 20%. Estivemos abaixo dos 10% pela primeira vez apenas em 2009, mas por pouco tempo. Logo depois a taxa voltou a subir novamente. A partir de 2016 ela vem sendo reduzida gradativamente, até chegar a esse novo patamar de 6%.
O cenário econômico que nos trouxe a esse novo patamar, entretanto, não é tão animador. A taxa Selic é um instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Quando os preços estão subindo, o Banco Central aumenta a taxa Selic a fim de encarecer os financiamentos e empréstimos, desestimulando o consumo. Com menor consumo, os preços dos produtos sobem menos. Por outro lado, quando há uma redução dos juros, há um estímulo ao consumo e a economia cresce. O desafio é sempre estabelecer uma taxa que estimule o consumo sem pressionar os preços para cima. Para que isso aconteça, os investimentos e a produtividade das empresas devem ser crescentes.
Esse definitivamente não é o contexto que permitiu o corte dos juros agora. O Banco Central só pôde chegar a esse novo patamar em função do vergonhoso nível de desemprego e da elevadíssima ociosidade da indústria brasileira. Existem cerca de 13 milhões de desempregados no País e a indústria opera com cerca 65% de sua capacidade, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria. Certamente o novo estímulo ao consumo não vai pressionar a inflação nessas condições. O curioso é que esse cenário já está posto há mais de um ano e só agora o Banco Central toma essa decisão. De qualquer maneira, esperamos que, mesmo com todo esse atraso, o novo ciclo de baixas nos juros possa ajudar a nos tirar desse atoleiro em que nos encontramos.
Jader Viana
Jornalista e economista