Miopia do mercado


16.04.2019

Quem tem acompanhado o noticiário econômico nos últimos meses deve estar com a impressão de que a reforma da Previdência é a solução para todos os males. O mercado reage instantaneamente a qualquer informação sobre as chances de aprovação da nova Previdência. Se o presidente ou um de seus filhos xinga, pelas redes sociais, o presidente da Câmara, o índice Bovespa cai. Se, por outro lado, há uma melhora no diálogo entre o Governo e Congresso, os preços médios das ações sobem. Isso porque os agentes econômicos, principalmente os empresários, parecem ter “comprado” a ideia do Governo Federal de que a economia brasileira só será salva se for aprovada a reforma previdenciária. Obviamente, tal reforma tem o poder de melhorar as expectativas. Ou seja, a aprovação da nova Previdência faz com que as pessoas acreditem que a economia vai melhorar e isso, por si só, já estimula o investimento e aquece a economia.

Entretanto, existe um componente muito importante para o crescimento econômico que está sendo negligenciado pelo mercado: a produtividade do trabalhador, isto é, a relação entre o PIB do país e o total de empregados. Desde o início dos anos 80, não há aumento da produtividade no Brasil, enquanto as principais economias do mundo vêm apresentando melhoras significativas neste indicador. Para termos uma ideia, um trabalhador nos Estados Unidos produz quatro vezes mais do que um trabalhador brasileiro, na média.

A produtividade está diretamente relacionada ao nível de educação do trabalhador. Não é possível pensar em aumento de produtividade sem melhoria da Educação. Portanto, não é possível pensar em crescimento econômico sem pensar em aumento do investimento nas escolas, sobretudo nas de formação profissional.

Por isso surpreende que, enquanto todas as atenções do Mercado estão voltadas para o Ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua reforma da Previdência, um outro ministro, Ricardo Vélez, da Educação, faz uma trapalhada atrás da outra e o Mercado não reage. Há um silêncio ensurdecedor do Mercado Financeiro e do setor produtivo. É como se a área de educação não tivesse importância para o desenvolvimento econômico. Mais de três meses depois do início do governo, o Ministério da Educação ainda bate cabeça e perde tempo com brigas internas de poder. Nenhum novo projeto foi apresentado e muitos estão parados por falta de gestão.

Na Educação não se pode perder esse tempo. É sempre bom lembrar que a Coreia do Sul saiu de uma situação de miséria, há 50 anos, e hoje está entre as principais economias do mundo porque entendeu a necessidade de investir em educação e aumento de produtividade.

Jader Viana

Jornalista e economista

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