Ninho de sonhos
10.09.2019
Deixo o Ninho das Águias, Serro! Assim era chamado lá pelos anos 1800. Venha comigo, minha alma pede calma. Vou te levar para um vilarejo, onde a rua principal é um trecho do calçamento da Estrada Real. Em São Gonçalo do Rio das Pedras carro não é necessário, vamos sentar à beira da cachoeira, no fim da rua. Que magia é essa que existe nesse lugar? Olha as imensas pedras, como tapetes, cobrindo a rua. Dói meu coração, sabendo como foi feita essa estrada. Tão real. Quantos escravos por aqui ficaram, enterrados, esquecidos. A tristeza da busca pela nossa história parece a busca pelo filho que se foi sem dizer adeus. Conte-me tudo, eu aguento. Esse pedaço do paraíso, melancólico e doce. Doce saber que somos sobreviventes. Se tem história, tem prosa, lendas e boa culinária. Encontro Seu Zé, 97 anos, fumando um cigarro, fumo enrolado em folha de caderno. Sentado nos degraus da antiga casa. Lentamente ele vai debulhando as palavras: “Uma manhã, crianças que brincavam na rua encontraram uma imagem de São Gonçalo debaixo de um pé de goiabeira. Correram chamar o padre, que a levou para para Capela. Manhã seguinte: olha lá, a imagem debaixo do mesmo pé goiabeira. Assombrados, viram pegadas que terminavam em um rio próximo. O vilarejo em polvoroso. Assim foi, leva o Santo para a Capela. Outra manhã, buscá-la debaixo da goiabeira. O padre, assustado, mesmo depois de ter benzido a imagem, levou-a para a Matriz do Serro. Perdeu viagem. Retornando a São Gonçalo, na manhã seguinte, a imagem o aguardava, no mesmo lugar. Arquidiocese enxergou como um sinal de Deus para o povo sofrido. Construíram então uma Matriz onde ficava pé de goiabeira, lugar esse que São Gonçalo escolheu - Obrigada Seu Zé! - A resposta veio depois que cheirou o rapé, com o sorriso sem dentes: De nada, fia - Vamos lá, na Cachoeira Seca, lavar o pranto, deixar descer junto às águas - Envolvendo as pedras que tentam impedir sua travessia - As Águas escuras devem guardar segredos que desejo um dia serem revelados. O alimento da alma saciada. Alimentar o corpo é preciso.
Receita Frango com Ora-pró-Nóbis
Um frango, picado, lavado e ferventado - temperar com sal e alho socado. Fritar até dourar. Em uma panela dourar o alho com urucum. Água até ferver. Colocar o frango, deixar cozinhar. Acrescentar folhas de ora-pró-nóbis cortadas em largas tiras. Mexer. Tampar e desligar o fogo. Corrigir o sal. Dica: as folhas ficarão verdes mesmo cozidas nessa receita.
Chef Eloísa Cardoso
Eloísa Cardoso - Chef de cozinha, resgate da tradicional culinária mineira, Membro da FGM (Frente Gastronomia Mineira)