Paixão mineira
12.08.2019
Sou Mineira, sou Serrana sim senhor! Valorizo minhas raízes e tenho paixão pela nossa culinária. Nasci no Serro e tive uma infância cheia de cheiros, brincadeiras no quintal, risadas de irmãos, puxões de orelhas. A família sempre ao redor da cozinha. Fiz essa receita com saudade da minha infância e de papai, que já partiu e pilotava um fogão muito bem. “Fundo de banca” na minha terrinha eram bancas de madeiras, onde se expunha produtos salgados. As pessoas com melhor poder aquisitivo escolhiam as partes nobres, ficando no fundo da banca os retalhos e as partes mais secas. Na época da Quaresma havia fundo de banca de bacalhau, receita de saudade. Serro foi sede de uma das quatro primeiras comarcas da Capitania das Minas, a antiga Vila do Príncipe do Serro Frio. Hoje, Cidade do Serro, ainda guarda as caraterísticas das vilas setecentistas mineiras, o que lhe valeu ser o primeiro município brasileiro a ter seu conjunto arquitetônico e urbanístico tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938. Em 1702 uma bandeira chefiada por Antônio Soares Ferreira descobriu as minas de ouro de Ivituruí, que em tupi-guarani significa Serro Frio. Um nevoeiro denso que invade a parte alta da serra, acarretando grande baixa na temperatura e sendo acompanhado de vento constante. Assim é descrito o típico clima da região. Em pouco tempo, um grande número de aventureiros chegou ao local atraídos pelo ouro que brotava fácil nas cabeceiras do Rio Jequitinhonha e seus afluentes. Em 1714 o sargento-mor Lourenço Carlos Mascarenhas foi nomeado superintendente das Minas de Ouro da região, para manter a ordem é a justiça. A prosperidade do Arraial motivou então sua elevação à Vila no ano de 1714, quando ganhou o nome de Vila do Príncipe. Com a criação da Comarca do Serro Frio, a Vila passou a ser sede da Comarca. Em 6 de março de 1838, a Vila foi elevada à cidade com denominação de Serro. Ainda é a doce memória de nossas vidas.
Vamos então a delícia de receita do nosso guisado:
FUNDO DE BANCA
Ingredientes: 1 kg de bacalhau em lascas dessalgado. 2 abobrinhas d’água. 250 gramas de quiabo. 5 dentes alho socado com pouco sal. Uma colher de óleo. Cheiro verde. Modo de preparo: Descasque levemente ou raspar as abobrinhas e pique em cubos maiores. Lave e seque bem os quiabos, pique em rodelas maiores. Refogue o alho socado, coloque o quiabo e mexa bem para selar. Acrescentar abobrinhas e o bacalhau. Misture e tampe. Deixe cozinhar em fogo baixo por 10 minutos. Não é necessário acrescentar água, porém observe sempre. Ajuste o sal se necessário. Sirva com angu feito com fubá de moinho d’água e cheiro verde. Como todo boa comida mineira, uma pimenta é sempre bem-vinda.
Chef Eloísa Cardoso
Eloísa Cardoso - Chef de cozinha, resgate da tradicional culinária mineira, Membro da FGM (Frente Gastronomia Mineira)