Celebração do Jubileu do Senhor do Bom Jesus de Matosinhos em Conceição do Mato Dentro é uma das maiores festas religiosas do Brasil
19.06.2018
Iniciado oficialmente no distante ano de 1787, neste ano o Jubileu de Conceição chega a sua 231ª celebração, recebendo devotos, turistas e cavaleiros do Brasil inteiro.
Tudo começou no ano de 1734, quando o escravo Antônio Angola encontrou no meio da mata uma imagem de madeira do Jesus crucificado. O vigário padre Manoel de Amorim Coelho após abençoá-la, a levou imediatamente para a capela consagrada a Nossa Senhora da Conceição, construída anos antes pelo bandeirante e fundador da cidade Gabriel Ponce de Leon, no mesmo local onde hoje está a Igreja Matriz. Acontece que, misteriosamente, a imagem desapareceu da igreja, sendo encontrada no mesmo lugar em que Antônio a encontrou pela primeira vez. O fato se repetiu por outras duas vezes, intrigando os moradores do arraial.
Com o passar do tempo, José Corrêa, um português oriundo da região de Matosinhos, em Portugal, tinha uma grave doença chamada zamparina (a mesma doença de Aleijadinho) e prometeu que, se ficasse curado, construiria um abrigo para a imagem no mesmo lugar onde foi encontrada e para onde retornou por três vezes. José Corrêa se curou e construiu a primitiva igreja, sendo assim o primeiro milagre atribuído ao Senhor Bom Jesus na cidade. Mas a imagem ficou esquecida. Pouco tempo depois, uma forte seca assolou a região e alguém sugeriu ao padre que se fizesse uma procissão com a imagem. Na volta, quando a procissão subia a rua Direita, em direção à igreja, o céu se fechou e caiu uma chuva nunca vista antes, que durou 15 dias sem cessar, sendo o segundo milagre atribuído ao Bom Jesus. Em 1750, foi fundada a irmandade do Bom Jesus de Matosinhos, que definiu, em 1759, construir uma nova igreja, aproveitando partes da primitiva capela, que passaria a servir de capela-mor. Em 1787, o papa Pio VI concedeu indulgência plenária a todos os devotos que participassem piedosamente do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Entretanto, há indícios de que a festa, com suas romarias, teve inicio no ano de 1750, ou seja, alguns anos antes da aprovação oficial pelo Papa. Há quem diga que são 267 anos de celebração e devoção ao Senhor Bom Jesus sobre a colina de Conceição do Mato Dentro.
O número de fiéis era tão grande que no ano de 1844, o padre Bento Godim pediu ao Bispo de Mariana autorização para que todo sacerdote que aparecesse em Conceição do Mato Dentro, por ocasião do Jubileu, pudesse receber confissões e pregar. Ficaram assim asseguradas aos milhares de visitantes, condições para que exercessem sua fé e devoção.
A festa, embora tenha também conotação social e comercial decorrente do fluxo de romeiros e visitantes, conserva seu caráter essencialmente religioso. Anualmente, de 13 a 24 de junho, Conceição do Mato Dentro torna-se cenário dessa tradição religiosa que transforma a pequena cidade do interior de Minas. A programação conta com missas diárias e exposição do Santíssimo Sacramento durante 11 dias, sendo que no último dia a imagem sai em procissão rumo à bênção final dos fiéis.
A festa recebe devotos de todo o Brasil, que se reúnem em torno da Igreja Bom Jesus do Matosinhos, buscando alcançar suas graças e fortalecer a sua fé.
A cavalgada do Senhor Bom Jesus de Matosinhos
A 26ª Cavalgada do Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Conceição do Mato Dentro, reuniu mais uma vez milhares de participantes, confirmando ser a maior cavalgada de Minas Gerais e a segunda maior do Brasil. De acordo com o comando da Polícia Militar, pelo menos 7 mil cavaleiros e amazonas fizeram o percurso rumo à bênção do Bom Jesus.
O evento, que espontaneamente reúne milhares de pessoas todos os anos, é para a secretária de Turismo, Rejane Ottoni, um dos maiores desafios do seu trabalho. “Sabemos que o sucesso do evento é garantido pela sua tradição, mas justamente por isso nossa dedicação é cada vez maior. A cada ano nos esforçamos para receber melhor os romeiros, para garantir a sua segurança, manter a sua assiduidade e atrair novos participantes para que a nossa festa seja cada vez maior e mais abençoada. E quem vem a primeira vez, virá outras”.
O Jubileu*
A tradição do Jubileu aparece no Velho Testamento, registrada no Levítico (Lv25,11; Lc 4,18 s) como um ano de ação de graças. Já naqueles tempos, acontecia o Ano Jubilar: havia redistribuição das terras, perdão das dívidas, libertação de escravos. Jubileu é tempo de perdão, de redenção.
*Informações extraídas do livro Jubileu, de Pe. Eduardo Ribeiro